Economistas e executivos de empresas brasileiras instaladas na Argentina também confiam que a economia do país irá se recuperar gradativamente. O gerente regional para a América do Sul e Caribe do Banco do Brasil, Evandro Lopes de Oliveira, acredita que a Argentina deve entrar este ano em um processo lento de recuperação, sempre com base aos sinais externos positivos vistos até agora. "É bom lembrar que a Argentina não está quebrada, até porque a tendência do mercado é socorrê-la, já que o país nunca deixou de pagar a sua dívida", afirma Oliveira. Para ele, 2001 não deverá mostrar grandes alterações em relação ao ano passado. Oliveira não é tão otimista quanto o governo argentino, que prevê expansão do PIB entre 2,5% e 5%, pois, de acordo com ele, existem aspectos internos que dificultam uma recuperação mais acentuada. "O mercado interno, que se equipara em tamanho ao de São Paulo, não consegue absorver o que o país está produzindo. Mas o maior problema é que essa produção não tem escala para o próprio desenvolvimento do país", explica o executivo do BB. Para Oliveira, esse é o grande drama da Argentina. "O país desenvolveu o setor produtivo voltado para a área externa, porém, não conseguiu a competitividade necessária para isso, principalmente entre as pequenas e médias indústrias, que são maioria no país." O pior, segundo Oliveira, é o fato de o mercado argentino não suportar grandes investimentos, atualmente. Conversibilidade - Evandro Lopes de Oliveira acredita que o governo do presidente Fernando de la Rúa encontrou algumas soluções para administrar a economia argentina sem mexer na conversibilidade, mas não suficientes para fazê-la sair do marasmo. "A primeira coisa que fizeram foi tentar resolver o problema da dívida; depois, iniciaram um plano para melhorar a ineficiência do setor público; e, finalmente, baixaram medidas para tentar reativar a economia. Ou seja, fizeram o feijão com arroz e, na hipótese de dar certo, o governo continuará rolando a sua dívida, mas, pelas contas fiscais apenas, não dá para avaliar se o país vai se recuperar ou não", avalia. O executivo do BB acrescenta que se a Argentina fosse uma empresa ninguém emprestaria dinheiro a ela, já que a base de arrecadação do país hoje não suporta pagar as amortizações de sua dívida.
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