Na reta final do primeiro turno das eleições, o empresariado colocou a mão no bolso e aumentou as doações feitas para as campanhas. Em cerca de duas semanas, o volume de recursos doados dobrou e já superou os R$ 545 milhões. O valor se aproxima do total doado em 2018, considerando também as quatro semanas entre o primeiro e segundo turno, quando alcançou R$ 560 milhões no ano em que Jair Bolsonaro foi eleito, de acordo com dados compilados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Hoje, são 43 pessoas que doaram R$ 1 milhão ou mais às campanhas. Há 15 dias, eram 14.
O dono do grupo Cosan, Rubens Ometto, segue na dianteira no ranking das doações por pessoas físicas, com R$ 8,8 milhões, ultrapassando o total doado por ele em 2018, quando tirou do bolso R$ 7,5 milhões. O empresário aumentou suas doações em R$ 3 milhões, ou 53%, em duas semanas. A principal beneficiária de Ometto, um dos homens mais ricos do Brasil, foi a direção nacional do Republicanos, que recebeu R$ 3 milhões. Há 15 dias, a direção nacional do PSD era a maior beneficiária, com R$ 2 milhões – número que não foi alterado.
Em nota, a assessoria de imprensa da Cosan afirmou que as “doações eleitorais feitas por Rubens Ometto Silveira Mello são realizadas em caráter pessoal e seguem as regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e demais normas aplicáveis”.
Desde a reforma eleitoral em 2015, as empresas foram proibidas de doar para legendas e candidatos. Já as doações de pessoas físicas para campanhas eleitoras podem ser feitas, segundo o TSE, por transferência bancária, com a devida indicação do CPF do doador. O valor pode ser de até 10% dos rendimentos brutos da pessoa no ano anterior à eleição.
Nos últimos dias antes da ida às urnas, o dono da calçadista Grendene, Alexandre Grendene, também ampliou o valor de suas doações, que agora somam R$ 5,9 milhões. No começo do mês, Alexandre era o quarto maior doador do País, com R$ 2,5 milhões. Hoje, ele ocupa a segunda colocação. O principal destino do dinheiro do empresário segue sendo Roberto Argenta, que concorre ao governo do Rio Grande do Sul pelo PSC e é dono da também calçadista gaúcha Beira Rio. A campanha de Argenta recebeu R$ 1,9 milhão de Alexandre, que é acionista minoritário da Beira Rio. Procurado, Argenta preferiu não comentar.
O empresário do setor calçadista também destinou R$ 1 milhão para a campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro e R$ 1 milhão para o candidato ao Senado pelo Ceará Camilo Santana (PT). Ainda no Ceará, Estado em que a Grendene tem unidades de produção, os candidatos ao governo Elmano de Freitas (PT) e Capitão Wagner (União) receberam R$ 750 mil e R$ 375 mil do empresário, respectivamente. A direção municipal do PDT na capital do Estado se beneficiou de R$ 750 mil.
Pedro Grendene, cofundador da Grendene ao lado do irmão, subiu, nos últimos dias pré-primeiro turno, para a terceira colocação entre os maiores doadores. Duas semanas atrás, ele não aparecia no ranking dos dez maiores doadores. Os dois primeiros beneficiados são Camilo Santana, do PT, com R$ 1 milhão, e o presidente Jair Bolsonaro, com o mesmo montante.
Eleições 2022
Pedro Grendene destinou o mesmo volume de recursos que seu irmão aos candidatos ao governo do Ceará. No total, as doações do empresário chegam a R$ 4,5 milhões. Procurada, a Grendene afirmou não comentar as decisões pessoas de seus acionistas. A reportagem não conseguiu contato com Pedro e Alexandre Grendene.
Outro nome ausente no ranking dos maiores doadores há duas semanas, Pedro de Godoy Bueno, controlador do grupo do setor de saúde Dasa, aparece agora em quinto lugar. O empresário distribuiu a candidatos a deputados estaduais e federais R$ 2,95 milhões. Quatro líderes indígenas receberam R$ 150 mil cada um: Vanderlecia Ortega dos Santos (candidata da Rede à deputada federal pelo Amazonas), Maial Paiakan Kaiapó (candidata da Rede à deputada federal pelo Pará), Célia Xakriabá (candidata do Psol à deputada federal por Minas Gerais) e Almir Suruí (candidato do PDT à deputado federal por Rondônia). Procurado, o empresário não comentou.
Ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro e controlador da Localiza, Salim Mattar é o quarto maior doador pessoa física dessa eleição. O montante repassado aos candidatos, no entanto, quase não se alterou nas últimas duas semanas: passou de R$ 3,1 milhões para R$ 3,2 milhões. O empresário não destinou, até o momento, recursos para Bolsonaro ou o atual partido do presidente, o PL. Dentre os seus ex-colegas de governo, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles recebeu R$ 250 mil.
Mattar afirmou, em nota, estar “apoiando predominantemente, mas não exclusivamente, candidatos a governador, senador, deputado federal e deputado estadual, pelo partido Novo, de cujos valores liberais compartilha e que renunciou ao uso de verba do fundo eleitoral”.
Também aparecem na lista dos maiores doadores o empresário do setor agropecuário e sócio da consultora Dan-Hebert Valter Egidio da Costa (R$ 2,6 milhões), o vice-presidente da Calçados Beira Rio, Heitor Vanderlei Linden (R$ 2,6 milhões), o ex-presidente do Itaú Unibanco Candido Bracher (R$ 2,5 milhões).
Linden não ampliou os recursos repassados às campanhas nos últimos dias, mas Costa não aparecia entre os dez maiores doadores antes. A reportagem não conseguiu contato com Costa e Linden não quis comentar o assunto.
Bracher aumentou as doações de R$ 1,5 milhão para R$ 2,5 milhões. Dos beneficiários de Bracher, 27 são candidatos ao Senado e, principalmente, à Câmara dos Deputados, sendo a maior parte deles do PSDB. O executivo se diz preocupado com a situação do Legislativo brasileiro. Bracher ainda doou R$ 125 mil à direção nacional do MDB, R$ 100 mil ao candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marcelo Freixo, e R$ 50 mil ao do Acre pelo PT, Jorge Viana.
Erro na contabilidade
Na última terça-feira, 27, uma doação de R$ 800 bilhões surgiu no ranking de doações do TSE: tratava-se de uma professora de uma universidade federal. Procurada pela reportagem, a professora disse que um erro havia ocorrido e que já havia entrado em contato com o TSE. Ela chegou a enviar o comprovante à reportagem. Sua doação, de R$ 800, era para uma candidata a deputada federal pelo Rio Grande do Sul. Na quarta-feira, o erro havia sido corrigido.
Confira os dez maiores doadores e seus maiores beneficiários
- Rubens Ometto, com R$ 8,8 milhões - Republicanos (R$ 2 milhões)
- Alexandre Grendene, com R$ 5,9 milhões - Roberto Argenta (PSC), candidato ao governo do Rio Grande do Sul (R$ 1,9 milhão)
- Pedro Grendene, com R$ R$ 4,5 milhões - Camilo Sobreira de Santana (PT), candidato ao Senado pelo Ceará (R$ 1 milhão) e Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição (R$ 1 milhão)
- Salim Mattar, com R$ 3,2 milhões - destinou R$ 250 mil a nove candidatos, dentre eles Ricardo Salles (PL) e Fernando Holiday (Novo)
- Pedro de Godoy Bueno, com R$ 2,95 milhões - doou R$ 150 mil a 11 candidatos, incluindo Marina Silva (Rede).
- Valter Egidio da Costa, com R$ 2,6 milhões - MDB (R$ 1,250 milhão)
- Heitor Vanderlei Linden, com R$ 2,6 milhões - totalidade a Roberto Argenta (PSC), candidato ao governo do Rio Grande do Sul
- Candido Bracher, com R$ 2,5 milhões - Vinicius Marinelli, candidato a deputado federal por São Paulo (PSD) (R$ 133,333 mil)
- Marcelo Rodrigues de Oliveira, com R$ 2,4 milhões - totalidade ao PP
- Helio Figueiredo Freire Filho, com R$ 2 milhões - totalidade ao PSD do Paraná
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