A distribuição recorde de dividendos anunciada na quinta-feira, 28, pela Petrobras é apenas a “ponta do iceberg” no que se refere à possibilidade de o investidor ser remunerado por manter papéis de grandes companhias em sua carteira de ações. Além da estatal, que costuma liderar com folga as cifras, a mineradora Vale, o Banco do Brasil e Santander, além de empresas industriais, costumam ser boas pagadoras de dividendos.
Mas o que o negócio ganha ao remunerar (potencialmente) seu investidor duas vezes, uma pelo dividendo e outra pela (possível) valorização da ação? Segundo especialistas, esses negócios têm uma camada de proteção extra contra a instabilidade do mercado, como ocorre atualmente na Bolsa brasileira, a B3.
Isso não quer dizer, porém, que esses papéis estejam imunes à variação dos mercados e à realidade de seus setores. No top 10 da distribuição de dividendos até junho, considerado o comportamento do Ibovespa no acumulado do ano, cinco empresas operam acima da média do mercado – BB, BB Seguridade, Petrobras, Santander e CPFL –, enquanto as demais perdem acima do índice no ano.
Os dados do gráfico abaixo se referem a dividendos efetivamente pagos no primeiro semestre, e portanto excluem os anunciados na quinta-feira pela Petrobras e pela Vale.
Louise Barsi, sócia da plataforma de educação sobre investimentos Ações Garantem Futuro, afirma que os setores mais perenes de mercado são os que mais pagam proventos devido a margens operacionais maiores do que em setores como o varejo. “Os principais segmentos que pagam dividendos são bancos, energia, seguro, saneamento e telecomunicações”, explica.
Para Gustavo Pimenta, diretor financeiro da Vale, essa camada extra de segurança embute benefícios. “Uma ação valorizada ajuda a companhia a avançar em objetivos estratégicos, além de ser uma fonte de capital, que nos permite crescer, fazer financiamentos e negócios”, diz. Pimenta afirma que a Vale tem tanto investidores que buscam receber rendimentos quanto aqueles que veem a empresa bem posicionada para a transição energética no longo prazo.
Os papéis que pagam dividendos oferecem outra vantagem, já que eles são isentos de Imposto de Renda (IR) para quem os recebe. Segundo William Eid, diretor do centro de estudos em finanças da Fundação Getúlio Vargas, as discussões sobre a cobrança de impostos sobre dividendos se arrastam desde os anos 1990, mas nunca saem do papel.
O professor da FGV também lembra que o pagamento de dividendos também é uma pressão de acionistas que detêm participações relativamente grandes em certos negócios – como são os casos dos fundos de pensão Previ, do BB, e Petros, da Petrobras. Logo, os dividendos servem para remunerar esse contingente relevante e com alto poder de barganha.
Como escolher
Segundo especialistas, na hora de escolher uma ação que paga dividendos, uma das forças emergentes é a busca pelo setor de energia. Entre as vantagens desse segmento estão a previsibilidade de faturamento, devido aos contratos de longo prazo, quanto proteção contra a inflação, por causa de reajustes anuais previstos nos acordos. Na privatização realizada em junho, a Eletrobras movimentou R$ 33,7 bilhões, demonstrando o interesse dos investidores no segmento.
“O setor de energia e infraestrutura é alto pagador de proventos porque é o que tem maior previsibilidade de fluxo de caixa. Diferentemente de outros setores, as empresas não precisam de tanto caixa excedente quanto uma Localiza, que está mais suscetível a variações de mercado”, diz Daniel Prado, sócio do multi-family office Nau Capital.
Nesse ramo, a CPFL foi a empresa de energia elétrica que mais pagou proventos aos acionistas no primeiro semestre. O total chegou a R$ 3,7 bilhões, segundo dados da consultoria TradeMap. Com características defensivas em tempos de taxa de juros alta, o setor de energia está entre os que mais atraem pessoas físicas na bolsa de valores brasileira, a B3.
No setor de transmissão de energia, a Taesa é um exemplo de empresa que atrai investidores. Segundo a TradeMap, houve um salto de 922% no número de acionistas pessoas físicas entre 2019 e 2022. A empresa pagou R$ 1,6 bilhão em proventos aos acionistas em 2021 e, até junho, mais R$ 800 milhões em 2022. Em seu estatuto, a empresa se compromete a pagar 50% do lucro aos investidores, acima da média do setor, que é de 30%.
Para Barsi, mesmo em um cenário complicado para a Bolsa, o investidor não deve ficar restrito apenas à renda fixa. “As pessoas normalmente correm atrás do que paga mais no momento. Mas os investimentos precisam ser divididos em caixinhas de curto, médio e longo prazo. Para ações, a convenção é de que o longo prazo é de cinco anos.”
Como as empresas remuneram seus acionistas
Dividendos
São valores do lucro líquido compartilhados com investidores, que não precisam pagar imposto de renda sobre os ganhos. Os valores pagos são definidos em assembleia de acionistas. Se não houver lucro, não há dividendo. Normalmente, o percentual sobre o lucro pago pode variar entre 1% e 50%
Juros sobre capital próprio
Também são uma forma de compartilhar ganhos com acionistas. Mas a diferença é contábil. Esses valores são contabilizados antes da apuração do lucro e incluídos como despesas, o que leva as empresas a pagarem menos impostos
Valorização das ações
Os preços das ações tendem a subir ao longo do tempo, desde que as empresas cresçam de forma sustentável e deem lucro. Com isso, o patrimônio do investidor aumenta com o passar dos anos
Bonificação
As empresas podem optar em pagar uma bonificação em dinheiro ou em novas ações. Isso acontece quando a companhia decide repassar uma parte dos lucros acumulados ao longo do tempo para os acionistas.
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