As exportações de ovos do Brasil para os Estados Unidos em fevereiro deste ano, último dado disponível, aumentaram 93,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em relação a janeiro deste ano, a alta foi de 128,6%, ou seja, o volume mais que dobrou.
No mês passado, foram exportadas 503 toneladas de ovos, fazendo com que os Estados Unidos ocupassem a segunda colocação no ranking dos maiores destinos dos ovos brasileiros, atrás apenas dos Emirados Árabes Unidos, que importaram 548 toneladas, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Ainda segundo os dados da entidade, em janeiro deste ano os Estados Unidos ocupavam a terceira colocação, com 220 toneladas de ovos importados do Brasil, quantia que representou 33% a mais do que em janeiro do ano passado.
O aumento das exportações coincide com o problema da gripe aviária na América do Norte, sobretudo nos Estados Unidos. Desde 2022, mais de 166 milhões de aves comerciais morreram devido à gripe aviária no país, número que vem aumentando nos últimos meses.

O que é a gripe aviária?
Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH), a gripe aviária é uma doença viral altamente contagiosa que afeta aves domésticas e selvagens.
Embora seja possível, raramente pode infectar humanos através do contato com aves infectadas. Porém, existe a preocupação de que possa mutar, facilitando a transmissão entre humanos com potencial risco de pandemia.
A doença é causada por vírus divididos em vários subtipos (H5N1, H5N3, H5N8, etc.), cujas características genéticas evoluem rapidamente, segundo a WOAH. Embora a doença ocorra em todo o mundo, alguns subtipos são mais prevalecentes em algumas regiões do que em outras.
A transmissão se dá de uma ave infectada para outra e os níveis de letalidade são altos, em cerca de 50%. Em países em desenvolvimento, o impacto pode ser ainda maior na indústria avícola, devido ao intensivo emprego de mão de obra. O ovo colhido de uma galinha infectada não pode ser consumido, sob risco à saúde, e por isso precisa ser desprezado.
Outro problema, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal, é que frequentemente aves saudáveis também são abatidas para conter surtos, o que provoca grandes impactos econômicos.
É o que está ocorrendo nos Estados Unidos, que se viu obrigado a aumentar drasticamente as importações de ovos para suprir a demanda interna, já que a produção doméstica foi muito reduzida. Mesmo assim, os preços da proteína estão alcançando preços exorbitantes no país.
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Impacto no Brasil
No Brasil, o preço do ovo aumentou cerca de 20% mesmo em regiões produtoras. Além da exportação, a demanda interna devido à alta no preço da carne são fatores que podem ajudar a explicar a situação.
A alta no preço do ovo foi alvo neste mês de reclamação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que não encontrou “explicação sobre o preço do ovo”.
“Estou querendo descobrir onde tem ladrão que roubou o direito de comer ovo do povo”, disse o petista. Ele chegou a dizer: “Queremos encontrar quem é o pilantra que aumentou o ovo tanto”.
O aumento do preço no mercado interno ocorre mesmo após o recorde na produção de ovos no Brasil em 2024, que levou à queda de preços por seis meses. Mas a elevação dos preços vem sendo creditada pelo setor ao aumento dos custos de insumos, que pressionou produtores, reduzindo a reposição de matrizes e a oferta de ovos.
Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal informa que a alta registrada no preço dos ovos “é uma situação sazonal, comum ao período pré e durante a quaresma”, e que apenas 1% da produção nacional é destinada à exportação.
“Após longo período com preços em baixa, a comercialização de ovos aqueceu pela demanda natural da época, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”, afirma.