‘Pacote do gás é avanço e política necessária em setor estratégico’, diz presidente da Abrace

Para Paulo Pedrosa, presidente da Associação dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), setor de petróleo estava acomodado, preferindo vender ‘metade do gás pelo dobro do preço’

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Foto do author Alvaro Gribel
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BRASÍLIA – Enquanto o setor de petróleo faz fortes críticas ao pacote de mudanças no mercado de gás natural anunciado pelo governo federal na segunda-feira, 26, os consumidores de energia enxergam as medidas como positivas. O presidente da Associação dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa, defende as medidas e diz que o objetivo é conseguir soluções de longo prazo, que reduzam o preço do insumo no País.

O entendimento, afirma ele, é de que outras tentativas feitas por governos anteriores foram frustradas e que estava cômodo para as petroleiras que a oferta de gás no País fosse baixa, para que os preços ficassem mais elevados. “É um mercado acomodado, prefere vender a metade do gás pelo dobro do preço”, afirmou Pedrosa em entrevista ao Estadão.

Entre as associadas da Abrace estão empresas dos setores de aço, alumínio, bebidas, fertilizantes e alimentos, entre outras. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Na visão dos grandes consumidores de energia, qual a avaliação do pacote do gás?

É um avanço, uma ação de política pública necessária para um setor estratégico. A Lei do Gás (de 2021), pactuada no Congresso, não avançou. Essas medidas retomam a discussão da Lei do Gás, com protagonismo do formulador da política pública.

O setor de petróleo diz que não haverá queda nos preços, porque a oferta de gás não vai subir rapidamente e pode haver paralisia em investimentos. Não é um tiro no pé?

A visão da associação é de que o setor de gás é estratégico para o desenvolvimento do País. E se dá em torno de um produto que, afinal, é um bem da União. Há um papel, não se pode negar, da formulação da política do gás. E temos muita confiança de que o detalhamento das medidas que foram tomadas vai ser em favor do mercado competitivo de gás, não vai ser contra ninguém. Muitas vezes, a gente olha para o mercado de gás e nos parece um mercado acomodado, de preferir vender metade do gás pelo dobro do preço.

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Em quanto tempo o setor espera que o gás fique mais barato e em que magnitude?

O que defendemos com o governo é a realização de leilões competitivos de longo prazo para promover o encontro da demanda e da oferta no futuro. É claro que o curto prazo é importante para nós, mas temos um olhar de ações mais estruturais, mais ligadas à transição energética. Foi bom o anúncio ter acontecido em um evento de transição energética. O gás é uma oportunidade para a descarbonização da indústria, e não para a carbonização do setor elétrico.

Paulo Pedrosa, presidente da Abrace Foto: Lorena Melca/

Outros governos tentaram reduzir o preço do gás, mas não conseguiram. Por que agora seria diferente?

Essas medidas estão tocando em pontos importantes, e isso está combinado, por exemplo, com movimentos do governo para diversificar a oferta de gás, vindo da Bolívia e também da Argentina. Há harmonização das regulações estaduais com a regulação federal. Há medidas voltadas para o acesso às estruturas essenciais, para o escoamento e tratamento de gás. É um pacote consistente e uma discussão para o diálogo. O setor já participou de vários movimentos como esse, como o Gás para Crescer, com muitos grupos de discussão. É natural que alguns setores fiquem preocupados com os aspectos das medidas, mas é hora de confiar e contribuir. É esse o mote, com muito respeito aos outros setores, aos produtores. Pode e deve ser bom para todo mundo, principalmente para o País.

O setor de petróleo fala em quebra de contratos, com risco jurídico para toda a economia.

Não vejo dessa forma. Até porque o pacote, no final – onde ele foi considerado como uma intervenção, que não leio dessa forma, mas como ação – delega poderes à Agência Nacional de Petróleo (ANP). E a agência vai fazer isso dentro das regras do jogo. Não vejo esse ângulo da quebra de contrato. Não é esse o compromisso do governo, não entendo dessa forma.

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