‘Não há limite para investimentos no Brasil’, diz CEO de petroleira francesa

Executivo afirma que, em 2025, operação brasileira será a primeira em fluxo de caixa; além de petróleo, companhia tem negócios em energia renovável no País

PUBLICIDADE

Foto: Thibaud Moritz/THIBAUD MORITZ
Entrevista comPatrick PouyannéCEO da TotalEnergies

RIO - Entre as maiores empresas de energia do mundo, a francesa TotalEnergies encara o Brasil como praça estratégica, a ponto de seu presidente global, Patrick Pouyanné, afirmar não ter limites para investimentos no País. Há uma década no cargo, o francês de 61 anos falou com exclusividade ao Estadão/Broadcast em um hotel da Zona Sul do Rio de Janeiro.

Bem-humorado, disse ter voltado à cidade menos de seis meses depois da última visita em função do carnaval. Mas teve reuniões com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a quem apelou por baterias na geração renovável, e com Magda Chambriard, presidente da Petrobras, companhia sócia em projetos de produção de petróleo do pré-sal.

Pouyanné diz que em 2025 a operação brasileira será a primeira da empresa em fluxo de caixa e afirma estar pronto para tomar mais riscos, tanto nos fósseis quanto em renováveis. A seguir, os melhores trechos da conversa:

Petroleiras frearam o ritmo de investimentos em energia renovável, mas a TotalEnergies tem mantido, por quê?

Estabelecemos uma estratégia em 2020 com dois pilares: óleo e gás e eletricidade. Ao contrário de alguns dos meus colegas, nós continuamos a desenvolver, investir e expandir a energia do petróleo. Em GNL somos a terceira maior empresa do mundo. Nunca dissemos que reduziríamos esse negócio como os outros disseram. Porque esse é o nosso ganha-pão. Depois, no segundo pilar, cerca de 70% dos elétrons que geramos são renováveis, mas também vêm a partir do gás. Porque a energia renovável é intermitente e o cliente não quer isso. Ele quer energia confiável 24 horas por dia, 7 dias por semana. Com esse mix ganhamos mais dinheiro.

Publicidade

Mais lucrativo...

Em 2024, tínhamos cerca de US$ 20 bilhões em ativos (de eletricidade integrada) e lucramos US$ 2,5 bilhões, rentabilidade superior a 10%. Em 2025, o negócio de eletricidade será 10% do negócio de petróleo e gás, o que é significativo. Portanto, temos uma estratégia clara, que estamos tornando lucrativa. Não vejo porque mudar. Em energia, é muito importante manter o ritmo (do investimento). Amamos óleo e gás e gostamos de eletricidade. Vamos manter assim porque investimos a longo prazo.

O presidente da Shell no Brasil já disse que a última gota de petróleo da empresa sairá daqui. Isso vale para vocês?

Acho que não (risos). Talvez (a última gota) seja de Abu Dhabi para nós. Vejo mais 40 ou 50 anos de operação em Abu Dhabi. No Brasil a operação é em águas profundas. É enorme e temos orgulho disso. Algo que surpreendeu muito os investidores é que, em 2025, o país número um do portfólio em termos de fluxo de caixa será o Brasil. Mas em águas profundas você produz e tem um declínio mais acentuado. Não é como na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes, onde há um longo platô de produção. Por isso, sou mais cauteloso (sobre essa última gota).

Chairman and CEO of TotalEnergies Patrick Pouyanne speaks during the Euronext 13th annual conference in Paris on March 18, 2025. (Photo by Thibaud MORITZ / AFP) Foto: Thibaud Moritz/THIBAUD MORITZ

Quais são os próximos passos da operação de O&G no Brasil?

Discuti isso com a Magda Chambriard. Hoje estamos desenvolvendo muitos ativos paralelamente (nos campos de) Mero, Sépia e Atapu. Mas devemos pensar no que vem a seguir. E voltamos para a exploração e tecnologia. Na exploração ainda há coisas a descobrir. Esse ano vamos perfurar um poço interessante com a Petrobras no verão, Água Marinha. E na tecnologia, o que acontece no Brasil é que tem muito petróleo e gás associado a muito CO₂. Encontramos petróleo com 30% de CO₂, 20% de CO₂. E o CO₂ não é muito bom. Não é ruim apenas para o planeta. Também é ruim em termos de corrosão de metais. Altos teores de CO₂ exigem metais muito caros para transporte do produto. E esse é um dos tópicos em que devemos trabalhar juntos. Se conseguirmos encontrar as tecnologias certas, poderemos ter um futuro muito longo no Brasil e aí, talvez, o meu colega da Shell esteja certo (risos).

O portfólio de O&G no Brasil está concentrado no pré-sal da Bacia de Santos. Cogita expandir para além do pré-sal?

Estou pressionando minha equipe de exploração, claro. O Brasil é importante. Temos 250 pessoas aqui espalhadas em algumas equipes de exploração, todas revisando oportunidades. Obtivemos algumas licenças para o Sul da Bacia de Santos no passado e temos algumas sísmicas, perfuramos na Bacia de Pelotas, mas do lado uruguaio. Então estamos olhando para isso. E há duas novas rodadas (leilões) chegando em 2025.

Publicidade

A TotalEnergies vai participar dos próximos leilões de área?

Na rodada de partilha da produção tenho certeza de que participaremos. Vi alguns itens e minhas equipes estão motivadas. Então iremos. Na outra, de concessão, eu não sei. Ainda preciso discutir com eles. O Brasil é importante e isso está claro. Na minha cabeça não há limite para investir no Brasil. Então é uma questão de oportunidade técnica. Confio nos meus geólogos e, se eles estão dispostos a explorar, nós nunca cortamos o orçamento de exploração. Desde que sou CEO, estamos gastando cerca de US$ 1 bilhão por ano com exploração e mantenho esse orçamento.

Quais são os planos para a operação no pré-sal?

Estamos discutindo isso com a Petrobras. Mero é enorme. Desenvolvemos todo o seu Oeste. No início, perfuramos o Leste, que foi decepcionante. Então decidimos nos concentrar na parte ocidental, mais prolífica. Mas houve uma iniciativa muito boa do governo, uma lei recente, que nos permite estender os contratos de partilha. Isso muda muito as coisas. Teremos tempo suficiente e aí, talvez, a gente deva olhar para Mero Central e outras áreas que têm hidrocarbonetos. O que estava limitando nossos esforços de avaliação de exploração era a duração dos contratos.

Por que não têm uma grande operação de gás no Brasil?

Eu gostaria de ter, mas o problema é que todo gás que encontramos no Brasil tem muito CO₂. Fizemos duas grandes descobertas no ano passado, Ubaia e Marolo (no bloco C-M-541), muito grandes. Mas têm entre 20% e 30% de CO₂, e isso dificulta. Por isso falo de tecnologia. Para gás no Brasil, temos de ser criativos, inovadores. Precisamos desenvolver mais captura de carbono, armazenamento? Não sei. Com a Petrobras lançamos um projeto de US$ 1,5 bilhão, o Hisep, que separa o CO₂ no fundo do mar e não o leva para o FPSO. Quando as pessoas falam em P&D, isso é P&D grande, que não tem em lugar nenhum do mundo. Se conseguirmos reinjetar CO₂ no reservatório sem levá-lo à superfície, resolveremos parte do problema. Então acredito que a resposta para desenvolver mais gás no Brasil é tecnologia.

O sr. disse, em setembro, que havia discussões comerciais para exploração na África com a Petrobras. Como está isso?

Petrobras se juntou a nós com participação de 10% em uma licença de exploração na África do Sul, próxima à fronteira com a Namíbia, no que chamamos de Bacia do Orange. Faremos essa campanha no ano que vem.

Publicidade

E na Namíbia?

PUBLICIDADE

Na Namíbia temos apenas duas licenças e já temos alguns parceiros. Então não vejo como, é uma questão de porcentagem. Mas estamos discutindo sobre outros países africanos (com a Petrobras). Magda está interessada em exploração. Então, como gostamos de desenvolver nossa parceria com a Petrobras, guardo isso em mente e, se tivermos oportunidades em outros países... Eles (Petrobras) têm boa expertise, conhecem a Bacia do Atlântico e nós somos fortes em Angola, por exemplo. Há um bom apetite da Petrobras, então, se virmos oportunidades, vamos propor a eles uma parceria, claro.

Em renováveis, o sr. fala muito em soluções integradas. Isso vale para o Brasil?

Sim. Estamos olhando para isso. Integração significa atuar em toda a cadeia: produzir eletricidade a partir de fontes renováveis ou plantas de gás, fazer a comercialização, ir até os clientes para fechar contratos. É o que fazemos no Brasil. Em breve devemos investir em baterias no Brasil, porque elas são úteis quando você tem muito vento para armazenar e depois entregar. Não temos usinas a gás por enquanto no Brasil, mas talvez tenhamos um dia. O mesmo vale para hidrelétricas. Estamos abertos. Porque o caminho para ganhar dinheiro é olhar para o diferente, estar presente ao longo da cadeia. No final talvez você ganhe alguns clientes, perca outros, mas é importante estar presente ao longo da cadeia. E aí se você não tem todos esses ativos, fica difícil ganhar dinheiro.

Como será esse investimento em baterias?

Ainda não fazemos isso aqui, mas acho que é o próximo passo. Pretendo tratar disso com o ministro de Minas e Energia (Alexandre Silveira) e estamos dispostos a discutir com os reguladores para estabelecer um bom caminho. É preciso encontrar uma maneira de incentivar a colocação de baterias, porque quando se coloca muita energia renovável na rede há um problema de estabilidade que leva a curtailments (cortes compulsórios na geração), que já são um problema no Brasil. Com as baterias, você resolve isso. É o que já fazemos na Alemanha, na Espanha e nos EUA. Então só uma questão de trazer essa experiência para o Brasil. Espero que não demore muito, porque significaria perda de dinheiro e os cortes já são prejudiciais a todos. Quero ser o primeiro a instalar baterias no Brasil.

Publicidade

Curtailment (corte compulsório) e preços baixos de energia são um problema para a estratégia no Brasil?

Por isso mencionei baterias. Os preços baixos estão aí. O que é difícil no Brasil é que você concorre com hidrelétricas que, em alguns anos, estão muito fortes e então os preços caem. Mas ao longo dos anos, você tem secas e os preços sobem. A estratégia é combinar PPAs (contratos de longo prazo) com clientes para garantir receitas. Mas estamos prontos para assumir mais riscos, e essa é uma discussão que temos com a Casa dos Ventos (TotalEnergies tem 34% da Casa dos Ventos). Por exemplo, ter um portfólio global, que poderia ser entre 70% e 80% coberto por PPAs e 20% ou 30% no mercado (livre). Porque gostamos disso e sabemos que podemos resistir. E aí, novamente, se pudéssemos ter algumas baterias no sistema, isso ajudaria a gerenciar os riscos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.