Embate do governo com o Banco Central é ‘um tiro no pé’, defende ex-presidente do BC

Gustavo Loyola diz que maior confiança na política fiscal abriria espaço para queda dos juros e que Selic pode começar a cair a partir de agosto

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Entrevista comGustavo LoylaEx-presidente do Banco Central

Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola avalia que a disputa travada pelo governo contra a condução da política monetária é “um tiro no pé”. Ele diz que uma maior confiança na política fiscal abriria espaço para a queda da taxa básica de juros. No cenário traçado por ele, a Selic pode começar a cair a partir de agosto.

“O próprio governo está dando um tiro no pé, porque está dificultando todo o processo, que poderia ser mais suave”, afirmou.

A seguir leia os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como o sr. vê esse embate do governo contra o BC?

Essa posição de crítica ao Banco Central acaba prejudicando. Qualquer decisão do BC vai parecer que está sucumbindo às pressões. Por isso, tenho dito que essa campanha contra o BC é um tiro no pé. O próprio governo está dando um tiro no pé, porque está dificultando todo o processo, que poderia ser mais suave.

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O que seria fundamental para iniciar um processo de queda dos juros?

No fundo, o essencial é que as expectativas (de inflação) comecem a cair e, para isso, teria de ter, por exemplo, maior confiança no campo fiscal, maior confiança na política econômica. Se você já tivesse um arcabouço fiscal, isso poderia abrir espaço (para a queda da taxa de juros).

Na avaliação do sr., quando a taxa básica de juros começa a cair?

Eu acho que, a depender do andar da carruagem dessa questão fiscal, poderia começar em agosto, algo assim.

Gustavo Loyla é economista formado pela UnB e com doutorado pela FGV, presidiu o BC e atualmente é sócio da Tendências Consultoria Integrada Foto: Iara Morselli/Estadão

Isso se o arcabouço for bem recebido?

Isso é uma questão de tempo. Em quanto tempo o Congresso vai aprovar (o arcabouço)? A questão é de como vai se dar o encaminhamento político disso. Não é só sair um arcabouço. Claro que isso tem de acontecer. É a condição mínima de que se tenha algo efetivo e que, de fato, vá contribuir para que haja uma redução da pressão de crescimento da dívida pública.

O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduziu o ritmo de alta dos juros. O que esperar nas próximas reuniões?

O Jerome Powell (presidente do Fed) ainda disse que o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) está preocupado com o aquecimento da economia americana, mas, ao mesmo tempo, o comunicado sinaliza que não vão subir tanto os juros como se esperava no início do ano. Provavelmente, vai ter mais uma alta de 0,25 ponto. Ou seja, ainda é um cenário de aperto monetária nos EUA, mas menos do que a maioria dos analistas antecipava até recentemente.

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Essa mudança pode ter algum impacto na política monetária do Brasil?

Eu acho que não.

Como o sr. analisa essa turbulência no sistema bancário global? Houve uma atuação grande dos bancos centrais nesse processo.

Eles querem, ao mesmo tempo que prosseguem com a política monetária, dar um sinal forte de que não vão deixar uma crise bancária se instalar. Então, por isso, eles tiveram uma resposta muito rápida e abrangente, inclusive dando garantia para os depósitos. Acho que o que prevalece para o Fed é que foi um episódio isolado e que o efeito sobre o crédito também vai ser mitigado. Por outro lado, tiveram uma posição cautelosa, de subir os juros menos do que vinham subindo antes.

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