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‘Galípolo terá de demonstrar independência do Banco Central na prática’, diz Henrique Meirelles

O ex-presidente do BC nos dois primeiros governos de Lula diz que a escolha de Galípolo para comandar a instituição foi ‘natural’; ele acredita que a instituição deve seguir independente com a nova gestão

Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Atualização:
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Entrevista comHenrique MeirellesEx-presidente do Banco Central

Presidente do Banco Central nos dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Henrique Meirelles, diz que a escolha de Gabriel Galípolo para comandar a autoridade monetária foi “natural”. “É um nome de confiança do ministro da Fazenda (Fernando Haddad).”

Na avaliação de Meirelles, até agora, os sinais são de que Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central, tem demostrado compromisso com o controle da inflação. Ele também avalia que a autoridade monetária deve seguir independente com o novo comando.

“A minha expectativa é que sim (o BC seguirá independente), mas ele (Galípolo) vai ter de demonstrar isso na prática. Ele está falando exatamente e se colocando nessa direção”, afirmou.

A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Como o sr. vê a indicação do Galípolo?

É uma escolha natural. É um nome de confiança do ministro da Fazenda (Fernando Haddad), que o nomeou o secretário-executivo do Ministério da Fazenda no início do governo. Tem também desenvolvido uma boa relação com o presidente Lula. São condições importantes. E de outro lado, tem o fato de que ele foi presidente de uma instituição financeira e está atuando como diretor do Banco Central há algum tempo. Está devidamente familiarizado com a metodologia de projeção de inflação e atividade econômica do BC. E isso é muito importante, porque a decisão de juros deve ser eminentemente técnica. É importante a experiência de presidente de instituição financeira e, depois, diretor do BC para poder ter condições de tomar essas decisões técnicas no papel de presidente.

E qual será o principal desafio do Galípolo?

O desafio principal é colocar e assegurar que a inflação fique na meta. Essa é a missão. Agora, um fator importante na evolução desse processo são as expectativas de inflação definidas pelos agentes econômicos - desde um fundo de investimento ou o banco até o formador de preço de uma grande, pequena ou até de uma microempresa. A expectativa de inflação, na medida em que esteja consistente com a meta, facilita muito o trabalho do Banco Central. É necessário considerar que a inflação é muito relevante para bom funcionamento da economia e para a capacidade do País crescer. Esse é o desafio principal. Primeiro, controlar as expectativas e, depois, as ações específicas e decisões do Banco Central.

E como o sr. avalia as últimas declarações do Galípolo? Elas foram consideradas duras…

Acho que ele está dizendo que vai controlar (a inflação). Ele está demonstrando um compromisso com isso. Agora, todos vão, primeiro, ficar olhando e ouvindo o que ele vai falar até o dia em que ele assumir, desde as declarações para a imprensa até as declarações dele na sabatina no Senado. Isso vai ser muito importante para alinhar as expectativas.

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Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central nos dois primeiro governo Lula 

O rumo dos juros virou um tema político no novo governo Lula. O sr. acredita que a independência do BC está garantida com o Galípolo?

A minha expectativa é que sim, mas ele (Galípolo) vai ter de demonstrar isso na prática. Ele está falando exatamente e se colocando nessa direção. Fui presidente do Banco Central por oito anos com o Lula e nós tínhamos, naquela época, um acordo verbal, não existia a lei de independência do BC. Tínhamos um acordo de que eu agiria de forma independente. Naquela época, ao contrário de agora, ele (Lula) tinha a prerrogativa de exoneração, mas o fato é que funcionou muito bem. O País cresceu e a inflação foi controlada. É importante, inclusive, o trabalho do BC para mostrar que a inflação na meta, controlada, é vantagem para todos, inclusive, para o governo, na medida em que as empresas podem trabalhar com planejamento e os consumidores podem planejar também a sua vida, o seu consumo.

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