O erro na compilação de dados sobre o fluxo cambial, revelado pelo Banco Central (BC) na quinta-feira, 27, pode assustar pelos valores envolvidos, mas deve ter efeitos limitados no mercado diante do tamanho das reservas cambiais do País, avaliam especialistas ouvidos pelo Estadão. Segundo eles, a falha deve reforçar procedimentos de checagem na instituições.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o problema se concentrou nos dados referentes às importações. O fluxo cambial total de 2022 passou de entrada de US$ 9,574 bilhões para saída de US$ 3,233 bilhões – um erro de mais de US$ 1 bilhão por mês.
O problema perdurou de outubro de 2021 a dezembro de 2022 e teria sido causado, principalmente, por um erro nas compilações de dados, que ficaram incompletos sem a contabilização de uma série de operações de câmbio contratado de importação.
Segundo Rocha, o erro em 2021 no fluxo cambial fez o total de importações passar de US$ 215,4 bilhões para US$ 217,2 bilhões. Para 2022, a revisão no fluxo de importações foi de US$ 238,1 bilhões para US$ 250,9 bilhões. Apesar de o erro não ser comum, os efeitos são amortecidos por serem pequenos em relação às reservas cambiais do Brasil, estimadas em R$ 324,3 bilhões pelo próprio BC em dezembro de 2022.
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“Esse erro não é agradável, não devemos achar normal, mas também não é o fim do mundo. As implicações macroeconômicas não são tão grandes”, afirma o professor Frederico Jayme Jr., do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Foi uma coisa operacional, não deve afetar. Agora é acompanhar para evitar que se repita”, corrobora Joelson Sampaio, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV).
Para Marco Antônio Rocha, da Unicamp, o problema é passar uma informação errada sobre a saúde da economia brasileira no período. “Isso significa que a percepção dos agentes econômicos estava errada quando a gente olha as estatísticas anteriores. Além disso, acabou sendo feito em um momento crítico da democracia brasileira, o timing político”, avalia.
No entanto, o economista reforça a qualidade do corpo técnico do BC, com um trabalho sério de produção de estatísticas - ponto também destacado pelos outros especialistas e que ajuda a manter a credibilidade da instituição.
Do ponto de vista da dinâmica de pagamentos externos, os efeitos não são capazes de influenciar a percepção do risco do Brasil, e como o valor total da alteração corresponde a menos de 4% do total das reservas cambiais do País, não chega a influenciar na oferta de moeda estrangeira na economia e não leva a variações no preço do dólar e do real.
Segundo os economistas, o Banco Central deve reforçar os procedimentos de checagem. “Provavelmente vai motivar rotinas de verificação de dados mais recorrentes por parte do Banco Central para evitar que ocorra novamente”, cita Rocha.
“Creio que vão ter mais atenção em relação a isso, deve aumentar o volume de pessoas que conferem esses dados”, projeta Jayme Jr. “Se aconteceu uma vez, não pode acontecer sempre”, reforça o economista da UFMG.
Procurado, o Banco Central afirmou que o erro foi explicada pelo chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, em vídeo na quinta-feira, 26. Em nota, a instituição diz que as revisões extraordinárias “decorrem de erro ou de disponibilização extraordinária de dados, seja nas fontes de informações, seja no processo de compilação”. “Nesses casos, a revisão deve ser efetuada tão logo identificado o erro ou o novo dado, corrigidas as informações, recompostas as séries e validado todo esse processo”, diz o documento. O banco não respondeu se planeja mudanças para evitar novos erros.
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