Ao tomar conhecimento da discussão sobre uma eventual mudança na legislação trabalhista para extinguir a escala 6x1 (seis dias trabalhados e um de descanso remunerado) e dar lugar a um modelo com uma jornada menor — por exemplo, 4x3 —, o empreendedor Fábio Dias, dono de um mercado de bairro em Sorocaba, no interior de São Paulo, passou a ter um motivo a mais de preocupação. “Para o comércio, essa mudança vai ser uma loucura”, disse. “Por aqui, vai impactar muito no comércio em geral, eu creio.”
Assim como Dias, outros micro e pequenos empreendedores ouvidos pelo Estadão temem uma mudança abrupta na forma de escala de trabalho. Na visão deles, o debate que ganha força nas redes sociais e começa a pautar o Congresso pode levar empresas com equipe e faturamento enxutos a ter de contratar mais trabalhadores. O movimento de revisão da escala 6x1 inspirou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL).
Dono de uma padaria, também em Sorocaba, Eduardo Lemos vem acompanhando as discussões que podem afetar seu negócio e a forma como ele organiza sua equipe. Lemos acredita que uma mudança na escala agravaria ainda mais um problema já vigente no seu negócio, a contratação e a retenção de mão de obra. “Sou contra a lei, na minha opinião há assuntos mais importantes para combater, porém não repudio a decisão que tomarem, sempre vamos continuar trabalhando e respeitando as leis”, diz.
O gerente de recursos humanos de um “atacarejo” no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, Andreson Gonçalves, já se adianta a uma eventual mudança na lei e começa a esboçar possíveis cenários para reduzir os impactos financeiros e de pessoal.
‘RH em desespero’
Ele conta que vem estudando as possibilidades de alterar sua escala de trabalho para modelos de cinco dias trabalhados com dois de folga (conhecido como 5x2), ou 12 horas trabalhadas por 36 de descanso (12x36). “Todas as pessoas de recursos humanos que eu conheço estão em desespero nesse momento, tentando entender qual será o impacto de uma eventual mudança na lei. Todo o nosso setor será impactado”, diz.
No atacarejo, que emprega aproximadamente 450 pessoas, Gonçalves acredita que, inicialmente, caso se confirme a mudança na legislação, seria necessário um aumento de cerca de 20% de mão de obra, o que deve encarecer momentaneamente o seu custo de operação. “O mais fácil para nós seria não seguir com a escala 12x36 e aumentar as contratações”, diz.
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Contudo, o gestor pondera que uma mudança no modelo de escala de trabalho pode ser benéfica no médio e no longo prazos, porque poderiam no futuro facilitar a contratação e a retenção de talentos, uma vez que no cenário atual ele avalia ser difícil garantir o seu quadro de funcionários cheio. “Quando nós dizemos que a escala é de 6x1, muitos candidatos já desistem da vaga”, afirma.
Negociação coletiva
Em posicionamento oficial , a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) defendeu, em comunicado, que a mudança constitucional poderia prejudicar pequenos negócios e, consequentemente, a geração de novos empregos. Para a entidade, os postos poderiam ser fechados, ou obrigar os trabalhadores a procurar uma segunda fonte de rendimentos, caso haja uma redução nos salários correspondentes à mudança na escala. Também afirma que a produtividade poderia ser prejudicada.
A FecomercioSP sugeriu que as negociações coletivas seriam o instrumento adequado para tratar do tema, em vez do debate no Congresso, sugerindo que o parlamento fosse criasse incentivos para condições de trabalho mais favoráveis. Segundo a federação, os empregadores têm oferecido escalas menores como forma de atrair e reter talentos, e a discussão deve ser feita com base na autonomia privada, exercida na negociação coletiva, de acordo com as necessidades de cada categoria. / Com Luis Filipe Santos
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