Questões relacionadas às questões ambientais, social e de governança (ESG, pela sigla em inglês) deixaram de ser uma opção para as empresas conduzirem seus negócios para ser um ponto crucial, tanto para a perenidade da empresa quanto para responder a uma demanda cada vez maior da comunidade e investidores, que têm cobrado uma postura mais sustentável do mundo corporativo. Para especialistas, a pandemia ajudou a colocar em evidência a necessidade de as empresas trabalharem esses pontos, mas concluem que muitas companhias ainda precisam sair do campo das intenções para colocar o ESG em prática. Para isso é relevante que o tema esteja sobre a mesa da mais alta cúpula da administração.
O vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo, Renato Gasparetto, afirma que as questões ESG antes eram, de fato, mais na esfera ativista, mas que hoje passaram a fazer parte da “jornada de efeitos práticos”. “No caso da Vivo o ESG passou a ser um diferencial de quais investimentos a empresa irá fazer ou não”, comenta o executivo, durante o Summit ESG, evento online promovido pelo Estadão.“O ESG deixou de ser uma opção e passou a ser obrigatório para a perenidade do negócio”, aponta.
A diretora da Global Reporting Initiative (GRI) no Brasil, Glaucia Terreo, destaca que a grande dificuldade das empresas ao fazerem seus relatos de sustentabilidade é entender o objetivo desses documentos que trazem informações ESG. Essa elaboração deve se entendida como uma adequação da empresa ao atual contexto do mercado e da sociedade, no qual o próprio mercado financeiro, incluindo investidores, cobram esse tipo de postura das empresas. A GRI é uma organização internacional que traz diretrizes para as empresas elaborarem documentos que trazem as informações sobre questões como mudança climática e direitos humanos.
“O mercado está trabalhando com essas informações. A empresa tem de entender que trabalhar seus impactos e controlar a questão planetária e ser competitiva ao mesmo tempo”, afirma a especialista, lembrando que as questões relacionadas à temática ESG precisam estar sob o guarda-chuva da mais alta cúpula da corporação, ou seja, o Conselho de Administração.
A visão, ainda, é de que a pandemia escancarou a necessidade de toda a comunidade e empresas sobre as questões ESG, algo que poderá acelerar medidas práticas em torno do assunto. “É preciso sair do estado de alerta e agir. A pandemia trouxe um sinal de alerta sobre nossa interdependência e vulnerabilidade e a consciência de que não estamos acima da natureza. Esse movimento ESG existe há décadas, mas estavam separado, difuso e segregado”, comenta. “É uma janela de oportunidade que não podemos perder.”
Ponto muito relevante na questão ESG, a diversidade, segundo a economista e consultora independente para inclusão Dulcejane Vaz, é profunda e precisar estar alinhada ao propósito da empresa.
Segundo a especialista, para o movimento de diversidade avançar é preciso criar aspirações dentro da empresa. “Diversidade gera criatividade, que vai gerar inovação se houver inclusão de fato”, diz. As cotas utilizadas para compor cargos por mulheres e negros, por exemplo, são, segundo ela importantes, mas é uma medida transitória, de forma a se fazer uma compensação histórica.
Desafio no setor público. O tema ganhou os holofotes no mundo corporativo, mas precisa também estar na agenda dos governos, incluindo as esferas municipais, estaduais e federal. O secretário executivo do Iclei - Governos Locais pela Sustentabilidade - na América do Sul, Rodrigo Perpétuo, aponta que os governos precisam conhecer esses impactos de forma que esse tema possa ter uma apropriação política da centralidade que a sustentabilidade precisa ter dentro da política pública.
“Por isso é importante emtransformar esse compromisso voluntário em medidas. É importante gerar ou adaptar leis incorporando a sustentabilidade como critério, de forma que o tema consiga atravessar o tempo dos governos”, destaca.
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