O plano dos pecuaristas de não recuperar os níveis de oferta de bois está correto, na avaliação do especialista em pecuária de corte Sérgio De Zen, pesquisador do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea). Para ele, o setor obteve a chance de deixar o ciclo de alta e baixa de preços. "Neste momento há incentivo para o retorno do investimento, mas acho correto o plano de fazer isso com cautela e bem devagar", diz De Zen. O avanço tecnológico dá ao pecuarista a possibilidade de recuperar, em curto período, a oferta de animais, mas isso pode provocar novamente a queda significativa dos preços, o que o setor não quer. O efeito vivido pelo setor é sobreviver numa atividade com rentabilidade negativa, como ocorreu nos últimos anos. Para Laucídio Coelho Neto, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), a arroba deve chegar a R$ 70 para que o pecuarista volte a investir. "Só neste patamar há retorno adequado para se manter na atividade." Muitos pecuaristas desistiram da atividade nos últimos anos e buscaram refúgio em outras culturas. Primeiro foi a soja e depois a cana. Esse movimento tem sido intenso no oeste de São Paulo. Em Mato Grosso do Sul, a cana vai crescer, entretanto, ainda estará longe de ameaçar o setor pecuário. Números da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul) indicam que os canaviais sul-mato-grossenses cobriram 170 mil hectares em 2006. Em 2011, a área alcançará 800 mil hectares. "A área de pasto no Estado é de 23 milhões de hectares. Por mais que a cana avance, não chega a ameaçar a pecuária", diz Eduardo Riedel, vice-presidente da Famasul. Mas os primeiros sinais desta corrida já surgem. A Agropecuária CFM bateu o recorde de venda de gado esta semana. Vendeu 859 touros em dois dias e faturou mais de R$ 5 milhões. O resultado é atribuído a esse novo momento do setor.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.