Em um contexto de economia em desaceleração e em que o corte de investimentos públicos em ciência e inovação virou rotina, a defesa das pesquisas científicas vai ter de ser reforçada, avalia o presidente da Fundação Alemã de Pesquisas (DFG, na sigla original), Peter Strohschneider.
Ele esteve no Brasil esta semana para a edição do Global Research Council, evento organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo conselho argentino, o Conicet, e pela DFG.
Especialistas dos três países defendem que haja uma abordagem mais equilibrada entre os recursos para a ciência básica – em que os projetos partem da curiosidade científica, sem necessariamente ter uma intenção prática – e o financiamento de projetos que nascem voltados a um objetivo prático.
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, o Brasil não é um caso particular. Em todos os países, o contribuinte quer ver resultado para o que paga de impostos, quer ver o impacto econômico de uma pesquisa que está sendo desenvolvida. “A população quer ter certeza de que os projetos têm relevância.”
Já o argentino Jorge Tezon lembra que os problemas que demandam uma solução da ciência são interdisciplinares e que a decisão de financiamento de determinado projeto deve olhar para o longo prazo.
Ainda que a sociedade tenda a apoiar mais facilmente o financiamento público de projetos em que o objetivo é mais claro, como a erradicação de uma doença, por exemplo, os cientistas argumentam que mesmo as pesquisas que não têm um objetivo já delineado podem levar a descobertas lá na frente, diz Strohschneider.
“Se por um lado é normal que a sociedade espere resultados práticos para pesquisas científicas, é preciso aceitar que parte da atenção do pesquisador deve se voltar à investigação de problemas ainda desconhecidos.”
À Agência Fapesp, ele explicou que as pesquisas na Alemanha que têm impacto social ou econômico mais evidente vêm de um fundo complementar aos recursos para os demais projetos. Ele também diz acreditar que mesmo em países em que o orçamento é limitado, como o Brasil, o governo deve achar um equilíbrio que considere a ciência como investimento.
Inovação
Na Alemanha, segundo ele, existe um consenso de que o governo deve investir, pelo menos, 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em pesquisas, uma fatia equivalente a € 80 bilhões por ano.
Enquanto isso, no Brasil, entidades científicas divulgaram no mês passado que o corte no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e a diminuição do repasse ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) podem fazer com que os recursos para a pesquisa científica sequem em dois meses.
A falta de recursos para a ciência impacta gravemente na economia, na saúde e em diversos setores que dependem de inovação, lembram os especialistas. Os cortes orçamentários dos últimos anos devem afetar desde o desenvolvimento de vacinas à produção de energia.
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