Organismos mundiais revisam estimativa de PIB diante de quadro recessivo

OCDE projeta 2,2% de crescimento em 2023, ante 3% este ano; especialista alerta para o impacto da pandemia no ensino

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Por Luiz Guilherme Gerbelli

Em razão das dificuldades da economia global, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, antecipou nesta semana que o órgão deve rever as suas previsões de crescimento para 2023 em relatório a ser divulgado na próxima semana. Com percepção semelhante, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou a projetar um crescimento de apenas 2,2% para o mundo em 2023. Em junho, previa 2,8%. Para este ano, manteve a sua estimativa em 3%.

“É um número que flerta com uma recessão moderada, porque a gente tem de lembrar que a população mundial aumenta 1,1% ao ano”, afirma Bráulio Borges, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Um PIB mundial que cresce 2,2% – como prevê a OCDE – traz um ganho muito pequeno em termos per capita.”

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A OCDE vem piorando sucessivamente as suas projeções para o desempenho da economia mundial, lembra Bráulio. No fim do ano passado, a organização previa avanço do PIB do mundo de 4,5%, em 2022, e de 3,5% em 2023.

“Era um cenário vislumbrado não só pela OCDE, mas por boa parte dos analistas no final de 2021 e no começo deste ano. É mais ou menos o que o mundo cresceu de 2015 até 2019, antes da pandemia”, afirma o pesquisador.

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Garoto vai sozinho para escola na cidade de Kyoto. No Japão desde cedo os pais incentivam seus filhos a serem independentes e terem liberdade. É muito comum crianças a partir de 5 anos indo a escola ou no transporte público por conta própria Foto: Vitor Fontes/Estadão

‘Capital humano’

Não é só no curto e no médio prazos que o crescimento global pode ser mais fraco do que o esperado diante desse cenário mais complicado.

Se nada for feito, os analistas dizem que os impactos da pandemia na qualidade do ensino devem afetar o desempenho da produtividade, comprometendo até o futuro da economia.

“As crianças ficaram muito tempo fora da escola, mais no Brasil do que em outros países. A gente viu os dados mostrando quedas muito severas do nível de aprendizado das crianças nesse biênio da pandemia”, diz Bráulio.

Na leitura dele, é possível que haja “uma geração perdida” se os países não desenvolverem políticas públicas educacionais para superar esse período de piora na qualidade da educação.

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“Se nada for feito, haverá um dano de capital humano e que vai se refletir lá na frente sobre a produtividade da economia mundial e a capacidade de inovação. Corremos o risco de ver uma geração perdida”, afirma o pesquisador do Ibre.

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