O diretor da Eurasia Group para as Américas, Christopher Garman, afirmou que o investidor estrangeiro é menos alarmista em relação ao Brasil do que os domésticos, mas que essa distância se reduziu em meio à crise de confiança que o País enfrenta por preocupações com a situação fiscal.
“Todos estão preocupados com a trajetória das contas públicas. Todos reconhecem que o Brasil está lidando com uma crise de confiança e que o governo Lula foi incapaz de geri-la exatamente no contexto de deterioração externa”, avaliou ele, em coletiva de imprensa, na tarde desta segunda-feira, 6.
Mas, ainda que o investidor estrangeiro enxergue o Brasil ‘menos alarmista’ do que o local, as preocupações são compartilhadas, reforçou.
“Os investidores estrangeiros estão em relação ao Brasil com as barbas de molho. Dificilmente vão querer entrar com investimentos mais fortes quando há incertezas sobre como todo esse risco doméstico pode se desenrolar”, explicou Garman.
O especialista chamou atenção ainda para o fato de as empresas brasileiras já estarem enfrentando custos de captação mais elevados, o que também dificulta os investimentos diretos. “Alguns projetos que poderiam entrar, talvez, podem estar sendo revistos”, alertou.
No mercado financeiro, o real está se equilibrando, mas sem um impulso fiscal relevante, conforme Garman.
Resposta tímida e insuficiente
Garman avalia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve dar novas respostas às preocupações fiscais no Brasil, mas que serão ‘tímidas’ e ‘insuficientes’ em um cenário global mais adverso com a volta de Donald Trump à Casa Branca.
“A gente acredita que a resposta tende a ser tímida e não suficiente para apaziguar as preocupações que estamos enxergando hoje”, disse ele, em coletiva de imprensa, nesta tarde, para comentar relatório da Eurasia sobre os principais riscos globais para 2025.
De acordo com Garman, a Eurasia espera que o governo adote algumas novas medidas de contenção de gastos para tentar cumprir a meta fiscal de 2025 e também mais ações do lado das receitas. Mas o governo Lula não deve conseguir ir além uma vez que a janela política para a aprovação de reformas fiscais já passou.
“Achamos difícil que o governo faça uma nova rodada de reformas fiscais sobre os gastos obrigatórios que requerem PEC ou lei complementar. A janela de fazer reformas mais difíceis foi no fim do ano passado”, explicou.
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De acordo com ele, o Brasil vive uma “crise de confiança”. “O real se desvalorizou 27% no ano passado. O governo tentou apaziguar esses ânimos com o pacote de cortes de gastos, que foi frustrado porque a repercussão não foi de apaziguar essas preocupações”, avaliou.
Para 2025, o cenário base da Eurasia para o Brasil são juros reais mais elevados, um real mais depreciado e o cenário externo exacerbando essas dificuldades. Já no ambiente externo, o aumento de tarifas comerciais na gestão de Trump pode pressionar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a manter os juros elevados, o que significaria uma nova rodada de desvalorização de moedas de mercados emergentes, como o real, e um crescimento econômico mundial mais baixo.
“Tudo isso tende a aumentar a preocupação no Palácio do Planalto sobre a eleição de 2026”, projetou Garman. “Uma grande história é quando essa combinação de cenário externo e doméstico leva a uma queda na aprovação do presidente Lula”, acrescentou o especialista.
Segundo Garman, a aprovação do presidente Lula deve cair neste ano, mas esse impacto não vem tão rápido. O aumento de renda propiciado nos dois primeiros anos da sua gestão devem carregar um “bem-estar econômico” para 2025, conforme o especialista. Mas o efeito deve aparecer, colocando atenção nas estratégias que o governo deve utilizar para reverter a perda de apoio popular.
O diretor da Eurasia Group para as Américas destacou ainda a previsão da consultoria de que o preço do barril de petróleo caia abaixo dos US$ 60 neste ano, o que também deve trazer impacto ao Brasil. De um lado, representa menos pressão na inflação, mas, do outro, menor arrecadação, explicou. “Até mesmo esse lado exacerba o desafio fiscal que o governo deve enfrentar nesses próximos dois anos”, avaliou.
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