‘Estrangeiro começa a olhar para o Brasil por ações mais baratas’, diz executivo do Citi

Segundo André Mazini, quem focar na busca por valorização de ações acabará procurando o Brasil e quem for atrás de crescimento econômico, do México

Atualização:
Foto: Divulgação/Citi
Entrevista comAndré MaziniHead de Equity Research para LatAm do Citi

A percepção de que as ações dos Estados Unidos estão caras enquanto no Brasil os preços dos ativos estão baixos está atraindo investidores estrangeiros para o mercado doméstico, principalmente aqueles focados em métricas de valuation mais favoráveis, segundo o chefe de Equity Research para Latam do Citi, André Mazini, que fez um roadshow em Nova York no meio do mês de março.

“O investidor estrangeiro que foca mais em valor (valuation) olha para Brasil, aquele que pensa em crescimento econômico foca em México”, disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast, no escritório do banco em São Paulo.

Ele acrescentou que os investidores estão mais impacientes em relação às incertezas ligadas ao governo do presidente americano, Donald Trump, o que favorece a rotação para outros mercados.

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Confira os principais trechos da entrevista abaixo:

Existe algum sinal que o mercado financeiro tem dado ultimamente ao qual vale a pena ficar atento?

Sinal é aquela informação que tem conteúdo informacional e que vale a pena agir em cima dela. Já ruído é ruído, muda toda hora, não quer dizer nada. Acho que tem um sinal: o mercado americano parece caro. No final do ano passado, quando o Trump foi eleito, teve um mega rali, e agora já voltou tudo. O Preço por Lucro está em cerca de 21 vezes. Na série histórica, na grande maioria das vezes em que o múltiplo está em 20 e poucas vezes, o retorno para os próximos 10 anos é perto de zero. O mercado está começando a ficar impaciente com a incerteza com o Trump e olhando para o mercado caro nos Estados Unidos. Investidores estão começando a fazer alguma rotação para outros mercados.

André Mazini, head de Equity Research para LatAm do Citi, destaca algumas empresas brasileiras que, a seu ver, estão bem posicionadas no contexto atual Foto: Divulgação/Citi

Essa rotação envolve que mercados?

A Europa está indo bem, finalmente, depois de muito tempo de estagnação. As ações europeias de empresas de defesa estão indo super bem, porque Trump quer que os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) invistam 2% ou mais do PIB em defesa. Acho que também estão começando a olhar para a América Latina. A Argentina já subiu o ano passado, porque teve uma euforia com o (presidente Javier) Milei. E acho que Brasil pode se beneficiar deste fluxo. Somos menos afetados por tarifas do que o México. O Itamaraty historicamente sempre foi pacífico em relação aos Estados Unidos.

Em termos de sentimento, como o investidor estrangeiro está em relação ao Brasil?

As ações brasileiras ficaram baratas. Então, quando você fala em sentimento, aquele investidor, fundo que olha mais para valor (valuation), múltiplo P/L mais baixo, olha Brasil. E de crescimento, olha para México. Mesmo com a questão das tarifas, ainda há pessoas apostando no México.

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Grande parte da incerteza que você citou decorrente do governo Trump seria pelas tarifas. Qual a visão do Citi sobre isso?

O tema de tarifas é até mais importante para o México do que para o Brasil, porque o México tem um setor exportador maior do que o do Brasil: se pegar todas as exportações do México e dividir pelo PIB, dá 32% arredondando, e no Brasil dá 16%. Não acho que tarifas vão ficar altas por muito tempo. Se existirem, serão temporárias, porque tarifas são muito inflacionárias. E Trump é uma pessoa negocial, transacional. Então a probabilidade maior é de que não haverá tarifas altas por muito tempo.

Fora valuation, o que o Brasil tem de atrativo?

É um mercado grande, com 210 milhões de pessoas. Temos uma latitude muito boa para agricultura, sol, terra fértil. E temos alguns setores com empresas de ponta, como Weg e Embraer.

Aproveitando para falar sobre setores, o que tem chamado mais atenção na hora de montar portfólio? Ainda mais considerando a Selic elevada.

Acho que vale a pena ter um pouquinho de empresas ligadas à exportação. Quando o real aprecia, como foi o caso de dezembro do ano passado até agora, não é tão bom para exportadoras, mas é sempre legal ter um pouco delas no portfólio porque é um hedge (proteção) caso o Brasil comece a ir mal e o real deprecie. Estas empresas vão bem porque a exportação fica mais competitiva com o real mais fraco. Weg é um nome de que a gente gosta bastante, é um nome global porque tem fábrica em 13 países e está muito ligada a um mercado de energia global, que está sendo demandado pelos data centers ligados a inteligência artificial (IA). Nos Estados Unidos em particular os transformadores são muito antigos, então é preciso trocar, porque está sendo demandado pela IA. Acho que Weg está bem posicionada, porque rivais — como Hitachi, Siemens, TSEA Energia e Virginia Transformer — estão sem capacidade.

Em contexto de aperto monetário, empresas cíclicas, de varejo e construção, costumam ter mais dificuldade. Tem alguma que vale a pena destacar?

Em varejo, temos gostado de SmartFit, porque tem executado bem a operação e tem crescido fora do Brasil. Hoje em dia as pessoas têm saúde como algo primordial, então SmartFit está indo bem. Na construção civil, Cury — que inclusive recentemente acreditamos que se beneficiou de um possível aumento na faixa de renda do Minha Casa, Minha Vida de R$ 8 mil para R$ 12 mil e da possibilidade de que o teto do programa, que atualmente é de R$ 350 mil, aumente.

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E em relação a blue chips, empresas maiores como Petrobras e Vale, como está a visão do Citi?

Gostamos das duas. Para Vale, o time global de commodities tem uma cabeça boa para o preço de minério e acho que a Vale não é muito afetada por essas tarifas do Trump, se vierem. E sobre Petrobras, a visão é de que o dividend yield (rendimento de dividendo) ainda é alto e é uma empresa que está investindo em descarbonização também.

E no setor financeiro?

Temos Itaú na carteira, que é um ótimo pagador de dividendo, e B3. Mas, se o juro eventualmente cair mais rápido do que se imagina e tiver uma mudança para mais atividades de mercado de capital — por exemplo, follow-on (oferta subsequente de ações) e IPO (oferta inicial de ações) —, o BTG Pactual é o melhor nome. O BTG tem mais operações de mercado de capital com proporção de receita do que o Itaú.