Em um país continental como o Brasil, o segmento de petróleo e gás realiza um serviço de utilidade pública, garantindo o abastecimento em todas as regiões. De acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), essas empresas fazem parte de um setor que representa 10% do PIB nacional, gera 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos, fatura anualmente R$ 420 bilhões e recolhe cerca de R$ 130 bilhões somente em impostos.
Seja por rodovias, trilhos ou ainda pelo mar ou pelo ar, todos os veículos de transporte dependem de abastecimento regular de combustível para rodar. “Sem distribuidoras, a economia do País entra em colapso”, afirma o professor Waldyr Gallo, que integra o conselho científico do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp.
O setor de distribuição de combustíveis no Brasil, estabelecido no início do século passado com a venda de querosene e gasolina importados, antecede até mesmo as primeiras investidas do País na produção e no refino de petróleo. Ao longo dos anos, o segmento não apenas foi se expandindo pelos 27 Estados, mas também aprimorando sua logística.
Superintendente de O&G da FGV Energia, Marcio Couto destaca a capilaridade do segmento, que se faz presente até mesmo nas regiões de difícil acesso. “É um setor que, ao longo do tempo, foi se sofisticando e hoje tem um desenho bastante eficiente. As empresas possuem muitas bases de distribuição localizadas em pontos muito extremos do País, como na região da Amazônia, onde estão sendo criados hubs de distribuição.”
Hoje, mais de 180 empresas distribuidoras são responsáveis por manter os modais brasileiros abastecidos e garantir a qualidade dos combustíveis vendidos, sejam eles nacionais, sejam importados. Fazendo a ponte entre os produtores de derivados de petróleo (e biocombustíveis) e os mais de 41 mil postos revendedores de combustíveis distribuídos pelo País, essas companhias movimentaram mais de 120 bilhões de litros de combustíveis líquidos só no último ano, de acordo com o IBP.
Armazenamento e produção
Para além do fornecimento no atacado, são as distribuidoras que armazenam os produtos e realizam a mistura de combustíveis verdes com a gasolina e o diesel. “A qualidade dos produtos que resultam dessa mistura é a prova da eficácia do sistema de logística e distribuição brasileiro, uma vez que a grande maioria dos produtos de origem fóssil está disponível no Sul e no Sudeste, enquanto os biocombustíveis têm sua produção mais concentrada no Centro-Oeste”, afirma Sergio Massillon, diretor da Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis (Brasilcom).
Um diferencial em relação aos outros países é o fato de esse serviço ter viabilizado a popularização dos carros com motor do tipo flex no Brasil, o que já permitiu a diminuição nas emissões de CO2. “O destaque principal é referente ao uso do etanol em veículos leves, seja na adição à gasolina (hoje de 27,5%), seja na oferta de etanol hidratado (E100). Ambos podem ser utilizados em veículos flex”, observa o pesquisador Luiz Cortez, autor do livro The Future Role of Biofuels in the New Energy Transition: Lessons and Perspectives of Biofuels in Brazil (editora Blucher).
A entrega dos produtos, uma vez combinados ao etanol e ao biodiesel, é feita pelos transportadores revendedores retalhistas (TRR), que abastecem até mesmo fazendas, sistemas geradores a diesel e indústrias. Já a venda no varejo fica a cargo de postos revendedores – que devem possuir dispositivos para determinar a quantidade de litros entregue ao consumidor – e de pontos de abastecimento que comercializam exclusivamente para seus associados. É o caso de frotas de táxi, aeroclubes, marinas.
Transição energética
Além da importância econômica, as distribuidoras passarão a ter um papel ainda mais estratégico para o sucesso da transição energética no Brasil. “O setor de distribuição vai ser o principal agente dessa mudança. Toda sua experiência de logística vai lhe dar uma vantagem enorme para fazer essa transformação no tempo mais adequado”, analisa o superintendente da FGV Energia.
Para Couto, as iniciativas de descarbonização das distribuidoras sinalizam que a transição já começou no setor. “O setor já está investindo em projetos, que vão ter uma importância enorme, do ponto de vista de eficiência, para o Brasil ser o país com a melhor matriz energética. Isso vai exigir uma grande transformação, em termos de postos de revenda, porque vai ter outros combustíveis entrando.”
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