Em decisão unânime, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) voltou a aumentar ontem os juros em 0,75 ponto porcentual, para a faixa entre 3% e 3,25% ao ano, num esforço para levar a inflação (que acumula alta de 8,3% nos últimos 12 meses até agosto) para a meta de 2%. Foi o terceiro aumento consecutivo nesse patamar, e o Fed já indicou que o aperto monetário ainda não terminou.
O presidente da instituição, Jerome Powell, afirmou que pretende agir “de modo agressivo” para manter o rumo até concluir a “tarefa” de fazer a inflação voltar à meta de 2%. “Queremos estar em posição de ter juros reais positivos em toda a curva. Continuaremos a avaliar se a política monetária está no lugar certo”, disse ele, em coletiva de imprensa após a divulgação do novo aumento.
Segundo Powell, sem a estabilidade de preços a economia não funciona para ninguém. “Queria que houvesse um meio indolor de conter a inflação, mas infelizmente não há. Pessoas realmente estão sofrendo com a inflação, temos de superá-la”, defendeu.
Ele disse ainda que a luta contra a inflação deve requerer um mercado de trabalho mais fraco e crescimento econômico menor. “Há grande probabilidade de um período de crescimento abaixo da tendência, e isso pode levar a alta no desemprego, mas precisamos ter isso”, afirmou. “Caso a economia coincida com a previsão do Fed, será um bom resultado.”
O aperto monetário na maior economia do mundo pode respingar, principalmente, nos países em desenvolvimento como o Brasil. Geralmente, a alta dos juros nos EUA drena capitais que estão em outros países, com efeitos, por exemplo, sobre as cotações do dólar. Além disso, analistas temem que uma freada brusca do PIB americano afeta o comércio com outras regiões no mundo.
Cenário
Powell não deu indicação sobre o ritmo de novas altas dos juros, ressaltando que a trajetória dependerá “da situação da economia”. “Tomamos uma decisão a cada reunião, as próximas não foram fechadas hoje (ontem). É difícil prever exatamente a trajetória da política monetária neste momento.”
Entre os 19 dirigentes presentes na reunião de ontem,17 projetam que o juro básico nos EUA será de 4% ou acima disso até o fim deste ano. Entre os dois restantes, um crê em juro na faixa de 3,75% a 4%, enquanto o outro prevê taxa de 4,5% a 4,75% ao ano, segundo consta no gráfico de pontos atualizado pelo Fed.
Entre os que projetam juro de 4% ou mais, oito acreditam que a taxa dos Fed funds estará entre 4% e 4,25% em dezembro, e nove creem em juro de 4,25% a 4,5% ao fim do ano. Para 2023, nenhum dirigente projeta juro abaixo de 4%, o que contraria a expectativa de parte do mercado e dos analistas, que estimam cortes de juros pelo BC americano no ano que vem.
Ucrânia
Em comunicado divulgado depois da reunião, o Fed afirmou que os indicadores recentes “apontam para crescimento modesto nos gastos e na produção”. O BC dos EUA destaca que o crescimento do emprego tem sido “robusto” nos últimos meses, com a taxa de desemprego “seguindo baixa”, mas também alerta para o fato de que a inflação “continua elevada, o que reflete desequilíbrios na oferta e na demanda relacionados à pandemia, preços de alimentos e energia mais elevados e pressões mais amplas dos preços”.
O Fed cita ainda o impacto econômico e humanitário da guerra na Ucrânia e diz que “eventos relacionados”, como sanções contra a Rússia, criam “pressão adicional sobre a inflação e estão pesando na atividade econômica global”. O comando do Fed se diz “especialmente atento aos riscos à inflação”.
O Fed diz que, para avaliar a postura apropriada na política monetária, continuará a monitorar as informações da perspectiva econômica. O BC americano diz que está pronto a fazer ajustes em sua política, conforme apropriado, caso surjam riscos que atrapalhem a busca pelas metas. O Fed diz que levará em conta uma série de informações, incluindo de saúde pública, condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e as expectativas para a inflação, além do quadro financeiro e internacional.
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