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EUA: grandes bancos elevam lucro, mas setor imobiliário acende alerta diante de juros altos

Segundo trimestre no país também foi marcado pela desaceleração nos gastos do consumidor; cenário para a economia americana segue coberto por incertezas à frente

Foto do author Aline Bronzati

NOVA YORK - Em um trimestre que começou sacudido pela primeira turbulência bancária nos Estados Unidos desde a crise financeira internacional de 2008 e terminou mais calmo, a temporada de balanços dos grandes bancos foi na direção contrária.

O crescimento dos lucros desacelerou à medida que os pesos pesados de Wall Street revelaram os seus números do segundo trimestre nos últimos dias. Os juros altos no país para combater a inflação sustentaram ganhos maiores frente ao ano passado, mas também acenderam o alerta para impactos no setor imobiliário, com os bancos americanos reforçando o seu colchão para perdas à frente.

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Juntos, JPMorgan Chase, Bank of America, Wells Fargo, Citigroup, Morgan Stanley e Goldman Sachs registraram lucro líquido de US$ 33,2 bilhões no segundo trimestre deste ano. A cifra representa um incremento de 18,6% frente aos cerca de US$ 28 bilhões vistos no mesmo período de 2022.

No geral, os resultados foram mistos. JPMorgan, Wells Fargo e Bank of America conseguiram elevar os lucros e sustentaram o crescimento do período, com os juros altos impulsionando as receitas e compensando a atividade ainda fraca das áreas de bancos de investimento. Na outra ponta, Citi, Goldman e Morgan reportaram queda nos ganhos, com revisões de determinadas atividades de negócios pesando nos resultados dos dois primeiros.

Bank of America é outro dos grandes bancos que viu lucro crescer Foto: Michael Short / The Washington Post

O cenário macro continuou desafiando os titãs de Wall Street. “Este momento do ciclo econômico cria ventos contrários significativos para nossos negócios”, disse o presidente do Goldman Sachs, David Solomon, em teleconferência com analistas e investidores, na quarta-feira, 19. O banco entregou o seu menor lucro trimestral em três anos, impactado pela revisão do seu negócio de varejo, com uma baixa de quase US$ 1 bilhão em perdas, e ainda o cenário macro que continua impedindo a retomada das atividades de bancos de investimento.

Diante do cenário de juros altos nos EUA — e a expectativa de mais altas à frente —, o setor imobiliário foi outro evento contrário do segundo trimestre. O Goldman Sachs revelou baixa contábil de US$ 485 milhões relacionados a investimentos no segmento. Antes dele, o Wells Fargo fez um reforço de provisões da ordem de US$ 949 milhões, antevendo possíveis perdas em empréstimos comerciais imobiliários e cartões de crédito.

Já o JPMorgan fez uma provisão de crédito de US$ 1,1 bilhão, sendo parte também dedicada a perdas com imóveis comerciais. Apesar de o portfólio do banco ser “bastante pequeno”, o banco quis se antecipar, segundo o diretor financeiro, Jeremy Barnum. “E com base em tudo o que vimos neste trimestre, parecia razoável construir um pouco para chegar ao que parecia ser uma taxa de cobertura confortável”, afirmou a analistas e investidores, na semana passada.

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Em meio a previsões mais sombrias de seus pares, o presidente do Bank of America, Brian Moynihan, disse que a economia dos EUA continua saudável, mas crescendo a um ritmo mais lento. Nesse sentido, o segundo trimestre também foi marcado pela desaceleração nos gastos do consumidor americano. “Os padrões de gastos do cliente agora são mais consistentes com o menor crescimento pré-pandêmico e a economia com inflação mais baixa”, disse.

A presidente do Citigroup, Jane Fraser, reiterou a visão do banco de que os EUA enfrentarão uma recessão à frente, o que é esperado acontecer entre o início deste ano e o começo do próximo. O mundo segue com as mesmas condições macroeconômicas bastante desafiadoras enquanto o mercado de trabalho aquecido nos EUA posterga o pouso forçado, na sua visão. O Citi vê o Fed elevando os juros mais duas vezes no país, uma na próxima semana e a outra em setembro.

Ainda não é possível afirmar que será o fim do ciclo de aumento nas taxas, mas esse momento está “muito, muito próximo”, segundo o presidente do Morgan Stanley, James Gorman. De saída, ele aproveitou a temporada de resultados para reafirmar o foco do banco no processo de sucessão e lançar uma meta agressiva para o seu substituto: triplicar os ativos sob gestão para US$ 20 trilhões nos próximos 14 anos.

“Isso parece um longo caminho, mas comecei este trabalho há 14 anos e tínhamos muito, muito menos do que os US$ 6,3 trilhões que temos hoje. Então, é possível”, disse o banqueiro, que liderou uma reviravolta do Morgan Stanley depois de quase ter sucumbido na crise financeira internacional de 2008.

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As áreas de bancos de investimento continuam decepcionando, mas os sinais de retomada estão mais evidentes. A expectativa de Wall Street é que o ponto de virada venha após o Dia do Trabalho nos EUA, dia 4 de setembro. Para Solomon, do Goldman Sachs, há uma série de catalisadores que devem elevar os níveis de atividade à frente.

“Estamos vendo isso começar a ganhar forma nos mercados de ações e de capitais e em fusões e aquisições... Definitivamente, (o cenário) parece melhor ao longo das últimas seis, oito semanas do que no início do ano”, acrescentou.

Mas o cenário segue coberto por incertezas à frente. “À medida que olhamos para frente, continuamos focados nas incertezas significativas relacionadas às perspectivas econômicas, competição por depósitos e o impacto sobre o capital da conclusão das regras de Basileia III”, disse o presidente do JPMorgan, Jamie Dimon, que, no ano passado previu que os EUA passariam por um furacão econômico.

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