THE NEW YORK TIMES - O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, propôs nesta quarta-feira, 12, as regulamentações climáticas mais ambiciosas do país até o momento. São dois planos projetados para garantir que dois terços dos novos automóveis de passageiros e um quarto dos novos caminhões pesados vendidos nos Estados Unidos sejam totalmente elétricos até 2032.
As novas regras exigiriam nada menos que uma revolução na indústria automobilística dos Estados Unidos, um momento de certa forma tão significativo quanto junho de 1896, quando Henry Ford levou sua “carruagem sem cavalos” para um teste e mudou a vida e a indústria americanas.
O desafio do governo para as montadoras é monumental: no ano passado, os veículos totalmente elétricos representaram apenas 5,8% dos carros novos vendidos nos Estados Unidos. Caminhões totalmente elétricos eram ainda mais raros, representando menos de 2% dos novos caminhões pesados vendidos.
Quase todas as grandes montadoras já investiram bilhões na produção de veículos elétricos, ao mesmo tempo em que continuam a fabricar os veículos convencionais movidos a gasolina, que geram seus lucros. Os novos regulamentos propostos exigiriam que o setor investisse mais pesadamente e reorientasse seus processos de maneiras que significariam o fim do motor de combustão interna.
Se as duas regras forem promulgadas como foram propostas, elas colocariam a maior economia do mundo no caminho para reduzir suas emissões de aquecimento do planeta no ritmo que os cientistas dizem ser exigido de todas as nações, a fim de evitar os impactos mais devastadores da mudança climática.
“Ao propor os padrões de poluição mais ambiciosos de todos os tempos para carros e caminhões, estamos cumprindo a promessa do governo Biden-Harris de proteger as pessoas e o planeta, garantindo reduções críticas na perigosa poluição do ar e do clima e benefícios econômicos significativos, como menores custos de combustível e manutenção para as famílias”, disse o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Michael Regan, em comunicado.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) não pode exigir que as montadoras vendam um certo número de veículos elétricos. Mas sob a Lei do Ar Limpo, a agência pode limitar a poluição gerada pelo número total de carros que cada fabricante vende: é possível, então, definir esse limite com tanta rigidez que a única maneira de os fabricantes cumprirem é vender uma certa porcentagem de veículos com emissão zero.
Os regulamentos propostos certamente enfrentarão desafios legais daqueles que os veem como um exagero do governo.
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“Eles estão usando o estatuto estabelecido há muito tempo para um propósito totalmente novo, para forçar uma meta totalmente nova – a transformação da indústria para veículos elétricos”, disse Steven G. Bradbury, que atuou como consultor jurídico chefe do Departamento de Transporte durante a gestão de Trump. “Isso é claramente impulsionado pela diretiva do presidente para alcançar esses resultados. Eu não acho que você possa fazer isso. O Congresso nunca contemplou o uso de estatutos dessa maneira.”
Os limites de poluição propostos para carros, relatados pela primeira vez pelo The New York Times no sábado, 8, são projetados para garantir que 67% das vendas de novos veículos leves de passageiros, de sedãs a picapes, sejam totalmente elétricos até 2032. Além disso, 46% das vendas de novos caminhões médios, como vans de entrega, serão totalmente de elétricos ou de alguma outra forma de tecnologia de emissão zero até o mesmo ano, segundo o plano.
A EPA também propôs uma regra complementar que rege os veículos pesados, projetada para que metade dos novos ônibus e 25% dos novos caminhões pesados vendidos sejam totalmente elétricos até 2032.
Combinadas, as duas regras eliminariam o equivalente às emissões de dióxido de carbono geradas ao longo de dois anos por todos os setores da economia dos Estados Unidos, o segundo maior poluidor depois da China.
Mas alguns trabalhadores automotivos e fabricantes temem que a transição para veículos totalmente elétricos prevista pelo governo de Biden vá longe demais, rápido demais e possa resultar em perda de empregos e lucros menores.
Embora as principais montadoras tenham investido pesadamente em eletrificação, elas estão apreensivas com a demanda dos clientes pelos modelos totalmente elétricos mais caros; o fornecimento de baterias; e a velocidade com que uma rede nacional de estações de carregamento pode ser criada.
Os trabalhadores automotivos temem a perda de empregos, já que os veículos elétricos exigem menos da metade do número de trabalhadores para serem montados do que os carros com motores de combustão interna.
Montadoras e sindicalistas vêm expressando esses temores diretamente ao presidente desde 2021, quando Biden anunciou uma ordem executiva direcionando as políticas do governo para garantir que 50% de todas as vendas de veículos novos de passageiros sejam totalmente elétricos até 2030.
Quando a notícia começou a se espalhar na semana passada de que seus novos regulamentos foram projetados para ir ainda mais longe, algumas montadoras recuaram.
John Bozzella, presidente da Alliance for Automotive Innovation, que representa grandes montadoras americanas e estrangeiras, questionou como a EPA poderia justificar “exceder a meta cuidadosamente considerada e baseada em dados anunciada pelo governo na ordem executiva”.
“Sim, a transição da América para um futuro de transporte elétrico e de baixo carbono está bem encaminhada”, disse Bozzella em comunicado. “A fabricação de veículos elétricos e baterias está aumentando em todo o país porque as montadoras autofinanciaram bilhões para expandir a eletrificação de veículos. Também é verdade que o plano de emissões proposto pela EPA é agressivo em qualquer medida”.
“Lembre-se disso: muito tem que dar certo para que essa mudança massiva - e sem precedentes - em nosso mercado automotivo e base industrial seja bem-sucedida”, disse Bozzella.
Em entrevista, Regan reconheceu que alguns executivos do setor automotivo e líderes sindicais expressaram ansiedade sobre as propostas - acrescentando que elas poderiam ser alteradas para amenizar esses temores. “Estamos muito conscientes de que esta é uma proposta e queremos dar o máximo de flexibilidade possível”, disse ele.
A agência aceitará comentários públicos sobre as regras propostas antes de serem finalizadas no próximo ano. As regras devem entrar em vigor a partir do ano modelo 2027.
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