EUA têm superavit de US$ 8 bilhões no comércio bilateral de produtos químicos com Brasil

André Cordeiro, presidente da Abiquim, informa que o Brasil importa US$ 12 bilhões de produtos americanos e só envia US$ 4 bilhões.

Foto do author Ivo Ribeiro

A decisão do governo americano, anunciada na quinta-feira, 13, de adotar tarifas recíprocas para todos os países exportadores aos Estados Unidos, a princípio, não preocupa a indústria química/petroquímica brasileira, disse ao Estadão o presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro. “A relação entre os dois mercados é amplamente superavitária para os EUA”, afirma o executivo.

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Cordeiro informa que o mercado brasileiro importa por ano US$ 12 bilhões de produtos químicos dos EUA, de um total de US$ 13 bilhões que o Brasil traz da América do Norte. “Nossas exportações para o mercado americano somam US$ 4 bilhões, portanto, bem inferiores”, ressalta.

“Por isso, não vejo qualquer desvantagem nas trocas de produtos químicos para os EUA”, afirma o executivo da Abiquim. Ao pé da letra, um movimento justo de comércio entre os dois países seria negociação para ficar equilibrado em US$ 12 bilhões entre exportação e importação, de cada lado, comenta.

Em memorando, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou que seus assessores calculem novos níveis de tarifas, uma tarefa considerada ambiciosa que vai abalar as regras do sistema de comércio mundial.

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Exortações brasileiras de produtos químicos e petroquímicos dos EUA ao Brasil soma US$ 12 bilhões ao ano, três vezes o valor enviado pelo País ao mercado americano Foto: Monalisa Lins/Estadão

Pela complexidade da execução, e o tempo que demandará, deverá permitir uma rodada de negociações nos próximos meses. Trump alega que o Brasil cobra tarifas maiores dos EUA do que seu país cobra sobre produtos brasileiros. As primeiras medidas são previstas somente para abril.

Para o presidente da Abiquim, como a quantidade de produtos, do mais diversos setores, e do químico, é muito grande, isso vai demandar muito trabalho e tempo. “Se for olhar produto a produto, de cada lado, não vai chegar a lugar nenhum. Essa comparação não é possível de fazer, pois há especificações diferentes e há itens em que os EUA são mais competitivos que os nossos”, diz o executivo.

No setor químico, que exporta total de US$ 15 bilhões para o mundo por ano, o Brasil não abala os EUA, diz Cordeiro. Ele lembra que o País carrega um déficit de US$ 50 bilhões nas trocas anuais de comércio de produtos químicos/petroquímicos, globalmente.

“Importamos US$ 65 bilhões”, afirma Cordeiro. Em razão disso, a indústria alertou o governo sobre o risco de fechamento de muitas unidades de produção no Brasil. Em outubro houve ampliação de alíquotas de importação para uma lista de 30 produtos.

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No ano passo, o setor químico no País operou com ociosidade de 36% da capacidade instalada, fruto de competitividade menor devido custos mais elevados, comentou ordeiro. Ele aponta, por exemplo, o valor do gás natural (4 vezes maior aqui do que nos EUA) e uma carga tributária de 40%, o dobro da americana.

O setor químico brasileiro representa a terceira maior indústria de transformação do País, com um faturamento anual de US$ 160 bilhões (R$ 912 bilhões, pelo câmbio de sexta-feira).

EUA têm tarifa de até 4% para máquinas

Os Estados Unidos foram o destino, no ano passado, de 26% dos embarques ao exterior de máquinas e equipamentos brasileiros, com geração de US$ 3,7 bilhões (R$ 21 bilhões) nas exportações, informa a Abimaq, associação que reúne os fabricantes do País. No todo, o setor exportou no ano passado US$ 14 bilhões.

José Velloso, presidente da Abimaq, afirma que, de fato, no caso do seu setor, as tarifas médias de importação cobradas pelo Brasil, de 11,2%, são maiores que as americanas, que variam de zero a 4%.Mas ele lembra que para produtos se similar nacional, o governo brasileiro adota tarifa zero, o que beneficia o exportador dos EUA. “Isso é uma vantagem para os EUA, pois há muitos casos”.

Segundo Velloso, no ano passado, o setor viu aumentar a importação de máquinas, de forma geral, por perda de competitividade com aumento de custos de insumos utilizados pela indústria. Ele cita, por exemplo, o aço. “Empresas do meu setor não conseguem importar dentro da cota fixada pelo governo brasileiro, em junho. Só conseguimos comprar pagando os 25%”, afirma. Até o limite da cota, a alíquota é de 10,8%.