As disputas cambiais que ameaçam se transformar em uma guerra global estarão no centro do encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das 20 maiores economias do mundo que começa hoje na Coreia do Sul. Enquanto Estados Unidos e União Europa devem centrar fogo no nível de desvalorização da moeda chinesa, outro grupo de países, incluindo o Brasil, vai buscar acrescentar ao debate os desequilíbrios criados pela política monetária expansiva americana, que ameaça inundar de dólares os países emergentes, com a consequente pressão sobre suas moedas.Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, propôs, em entrevista ao Wall Street Journal, um acordo sobre "normas" de política cambial. Os EUA querem estabelecer metas numéricas sustentáveis para superávits e déficits comerciais. A medida seria um avanço em relação à promessa feita pelo G-20 em 2009 de limitar o crescimento das exportações em países de rápido crescimento que apresentam superávit, como a China, e reforçar as poupanças nas economias deficitárias ricas, como os EUA. A medida afetaria o jogo de forças internacional, limitando o desequilíbrio entre as economias."Estamos explorando a possibilidade de chegarmos a um acordo para manter os desequilíbrios externos em níveis mais sustentáveis", disse Geithner. Em relação às políticas comerciais americanas, os EUA enfrentam pressão de todos os lados. No Congresso, alguns legisladores tentam aprovar leis que castigarão a China por manter a moeda subvalorizada como forma de obter vantagens comerciais.Resistência. A proposta americana de metas para superávits e déficits comerciais enfrenta resistência. Segundo a Reuters, as propostas não foram bem recebidas pela Índia, pela China e por outras economias emergentes, nem por países como a Alemanha, dona de um grande superávit comercial.A fonte do G-20 acrescentou que um esboço do comunicado só começaria a ser redigido hoje, após o fim da primeira rodada de reuniões. "Se os EUA persistirem com essa linha, vamos manifestar nossa oposição", disse a fonte, completando que o comunicado final deve fazer uma referência "contida" às moedas e aos desequilíbrios nas balanças comerciais. A ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, disse que a coordenação atual entre as políticas econômicas deixa a desejar e que a Ásia teve de desempenhar um papel-chave. Diplomatas afirmaram que Washington estava propondo que os países limitassem a 4% do PIB seu superávit ou déficit comercial. Mas o ministro da Economia da Alemanha, Rainer Brüderle, já disse que se opõe a metas numéricas. O vice-ministro da Economia da Rússia, Dmitri Pankin, também se mostrou cético em relação à iniciativa. "Os Estados Unidos vão tentar colocar no topo da pauta a questão das taxas de câmbio e dos desequilíbrios na balança comercial, na tentativa de pressionar a China a aceitar alguns compromissos. Na minha opinião, é improvável que isso tenha sucesso", disse Pankin. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
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