Ex-presidentes do BC criticam política fiscal do País em evento sobre os 30 anos do Plano Real

Para Pedro Malan, é possível compatibilizar compromisso fiscal e social, com definição clara de prioridades e avaliação de programas; encontro teve ainda presença de Gustavo Franco, Gustavo Loyola e Persio Arida

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Foto do author Fernanda Trisotto

BRASÍLIA - A condução da política fiscal brasileira foi alvo de críticas de ex-presidentes do Banco Central que participaram de debate sobre os 30 anos do Plano Real na 2ª Conferência Anual do BC. A mesa foi moderada por Roberto Campos Neto, presidente do órgão, e contou com a presença dos ex-presidentes Gustavo Franco, Gustavo Loyola, Pedro Malan e Persio Arida.

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Malan, também ex-ministro da Fazenda, disse estar convencido de que a sociedade brasileira aprendeu os benefícios da preservação da inflação sob controle, que influenciam no salário e transferência de renda, e disse acreditar que o governante que tiver posição leniente com ela será penalizado nas urnas.

Para ele, é possível compatibilizar compromisso fiscal e social, mas isso exige uma definição clara de prioridades e avaliação de programas. “Quando tudo é prioritário, nada é prioritário. Quando temos um orçamento com gastos que não são gastos e não devem ser considerados como tal, é um problema sério que estamos construindo para o futuro”, disse.

Arida disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o arqui-inimigo do plano Real e inventou a retórica da herança maldita. “Nosso tripé macroeconômico é manco hoje em dia, porque a perna fiscal sofreu uma longa e contínua deterioração, e as perspectivas não são boas”, disse.

Evento no Banco Central debateu os 30 anos do Plano Real  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Para Loyola, “é lamentável” que até agora o Brasil não tenha resolvido seu problema fiscal, e isso é algo que pesa sobre o BC. “Já houve várias ameaças à estabilidade. Felizmente, o Banco Central tem se fortalecido ao longo do tempo, e hoje temos a nossa autonomia, mas sofremos críticas e continuamos sofrendo críticas. Embora a estabilidade de preço esteja imbricada fortemente no coração dos brasileiros, muitas vezes a instituição é sujeita a críticas sem nenhuma base, críticas políticas e populistas”, pontuou.

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Gustavo Franco lembrou que a discussão do plano Real também passou pela função de comitês e conselhos. Ele disse que, à época, o Comitê Monetário Nacional (CMN) tinha um peso maior, mas também era muito “gastador”. “Muito do nosso déficit nasceu ali”, observou. Para ele, o fortalecimento do Comitê de Política Monetária (Copom) é um bom resultado dessa época. Franco também destacou a postura transparente do BC na transição de moedas. “Nunca mais ninguém chamou essa casa de caixa-preta, nunca mais”, disse.

30 anos do real

Campos Neto evitou comentários sobre a condução da política fiscal atual, mas destacou o papel de divisor de águas do Plano Real para o desenvolvimento do Brasil: após um período de inflação alta e baixo crescimento, além de uma série de planos malsucedidos para o controle inflacionário, a estabilidade proporcionada pelo real foi determinante para o País.

“O Plano Real foi um marco de sucesso na história econômica do Brasil, que permitiu controlar a inflação depois de décadas de descontrole inflacionário, contribuindo para o desenvolvimento econômico e amadurecimento institucional do País”, disse.

Malan ressaltou que o plano foi responsável pela estabilização da inflação e possibilitou que o País negociasse a dívida externa. “O real foi um divisor de águas importante no sentido de que permitiu que, derrotada a hiperinflação, o País vislumbrasse a verdadeira natureza dos desafios que tinham pela frente, em áreas outras que não lidar com a inflação alta crônica e crescente ao longo do tempo”, afirmou.

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