Opinião | Excesso de térmicas trava competitividade da indústria

Não é justo o brasileiro pagar subsídios aqui para vendermos energia limpa e descarbonizarmos a indústria lá fora

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Por Lucien Belmonte

O Brasil vive uma contradição. Podemos ser exemplo para o mundo com uma matriz elétrica limpa e renovável – grande diferencial competitivo para a indústria nacional –, mas corremos o risco de desperdiçar essa condição por falta de planejamento ou por captura de interesses privados.

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Sofremos com as enchentes do Rio Grande do Sul e hoje enfrentamos seca, altas temperaturas e queimadas. Demoramos muito para aceitar a nova realidade climática e para rever nossas premissas e ações. Agora, no calor do momento, precisamos de decisões técnicas e estratégicas. Uma delas é garantir o provimento de energia com segurança, estabilidade e qualidade para a população e o setor produtivo, sem gastos abusivos e com o mínimo impacto ambiental.

Já passamos por racionamento, mas o cenário atual é diferente. Os reservatórios estão em níveis seguros e temos muito mais oferta de energia solar e eólica do que havia anos atrás. Por isso, a indústria entende que contratar usinas térmicas além do necessário para o fornecimento de energia no longo prazo seria um equívoco ambiental e econômico. Precisamos reduzir nossas emissões e baixar o preço da conta de luz que afeta o consumidor e o crescimento do País.

Não há risco de desabastecimento. Quem vende essa ideia de terror no atual contexto está mal informado ou tem viés. As térmicas devem ser usadas de forma estratégica, só quando necessário e com o menor custo possível para o bolso e a natureza dentro do despacho pela ordem de mérito. Não queremos contratações sem critério feitas para atender grupos empresariais da cadeia de geração térmica ou porque é a solução mais fácil.

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Usina em Macaé (RJ): geração térmica polui mais do que as fontes hidrelétrica, eólica e solar Foto: Fabio Motta / Estadão

A transição energética prevê uma transformação sustentável que ainda não está claramente endereçada no Brasil. A indústria usou óleo pesado em outros tempos e hoje adota gás natural, menos poluente. Como pensar na transição do gás para fontes menos emissoras se o setor elétrico passar a gerar com mais térmicas a gás, óleo ou carvão? Isso não é transição, é estagnação. Quando não retrocesso.

A indústria brasileira quer energia limpa e com preço justo para se descarbonizar, produzir produtos verdes com maior valor agregado para o mercado interno e para exportar. Não é justo o brasileiro pagar subsídios aqui para vendermos energia limpa e descarbonizarmos a indústria lá fora, enquanto a nossa perde atratividade. Cada vez que andamos para trás na política energética e permitimos que interesses privados ditem as regras, nos afastamos dos objetivos de desenvolvimento que almejamos.

Opinião por Lucien Belmonte

Presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), é porta-voz do União Pela Indústria e coordenador do Fórum do Gás

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