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Explosão na plataforma P-36 deixou marcas na indústria de petróleo do mundo todo

Cobrança por medidas de mitigação dos riscos ganhou importância na pauta dos sindicatos de petroleiros; irregularidades na operação, porém, ainda persistem

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RIO DE JANEIRO - A explosão na plataforma da Petrobrás P-36 deixou marcas na indústria de petróleo do mundo todo. De um lado, serviu de lição do que não deve ser feito por empresas do setor. Algumas regras ficaram mais rígidas, inclusive em outros países. O acidente também disseminou a insegurança entre os trabalhadores. A cobrança por medidas de mitigação dos riscos ganhou importância na pauta dos sindicatos de petroleiros. Ainda assim, irregularidades na operação persistem.

Na última década, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) multou em R$ 769 milhões companhias petrolíferas por lacunas na operação de plataformas. Unidades instaladas no litoral brasileiro ainda falham, por exemplo, na detecção de vazamentos de gás e da presença de fogo. Em algumas delas, o sistema de combate ao incêndio é insatisfatório. E são muitos os riscos nos processos de paralisação de plataformas e de abandono de poços.

Desde que a embarcação naufragou, a Petrobras investiu R$ 81,6 bilhões na área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde. Foto: Fabio Motta/Agência Estado

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 “Qualquer metal no meio do mar sofre ação da natureza, vai corroendo, os equipamentos vão quebrando. A gente acaba improvisando, vivendo com o que tem. As pessoas ficam em risco”, disse um técnico em Segurança de Operação, que pediu anonimato, sobre as condições de segurança de plataformas paralisadas na bacia de Campos.

A Petrobrás diz ter aprendido com a P-36.“A companhia criou o Programa de Excelência Operacional das Unidades Marítimas, baseado nas conclusões da investigação do acidente”, afirmou, por meio da sua assessoria de imprensa. Segundo a empresa, foram aprimorados os procedimentos de emergências e as exigências técnicas na hora de definir um projeto.

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Desde que a embarcação naufragou, a estatal investiu R$ 81,6 bilhões na área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS). Mas não conseguiu ser absolvida na ação movida pelo Ministério Público Federal e Ibama, da qual recorre até hoje.

David Zylberstajn, diretor-geral da agência na época, afirma que, para o órgão regulador, o acidente não teve consequências, já que não houve falha de regulamentação. Mas foram tomadas medidas corretivas após a tragédia, como ocorre em grandes acidentes.

“Qualquer acidente, quando cai um avião, o que se fala é que se lamenta a perda de vidas, mas muitas são poupadas depois. É muito parecido, mas foi um acidente muito incomum, tanto que em tantos anos é um caso único de afundamento”, explicou. 

A visão de Francisco Duarte, professor de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ, é também de que acidentes como esse não acontecem de uma hora para a outra. “São erros latentes. Não adianta procurar no operador (trabalhador) as causas. Elas são de processo", avalia. 

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Um erro primário, em sua opinião, é a falta de comunicação entre os profissionais que desenham a plataforma e os operadores da unidade. "Muitas vezes, o engenheiro projeta uma plataforma sem nunca ter subido em uma", afirma. Por isso, a nova fronteira em termos de segurança nessa indústria diz respeito a fatores humanos, segundo o especialista. 

"Por conta desse processo de sucateamento da empresa, com a redução do efetivo nas unidades operacionais, próprios e terceirizados, temos receio de um acidente ampliado de processo ocorrer nas refinarias, terminais e plataformas da Petrobrás", afirma o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. 

Marcos Breda, que coordenou o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) de 2014 a 2017, acrescenta que profissionais da linha de frente na operação de plataforma estão sendo terceirizados, o que aumenta o risco de acidentes.

A Petrobrás respondeu que “o controle de estabilidade nas unidades próprias da Petrobrás é realizado por profissionais certificados pela Marinha do Brasil”.

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O acidente na P-36 serviu, no entanto, para endurecer algumas regras internacionais, como as da Associação das sociedades classificadoras (IACS), segundo Segen Estefen, coordenador do Laboratório de Tecnologia Submarina da Coppe/UFRJ.

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