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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião | O que os bancos centrais vão tentar salvar antes: câmbio ou PIB?

Autoridades monetárias enfrentam dilema de preservar avanço de economia ou impedir desvalorização maior das moedas

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As recentes reuniões de política monetária de dois bancos centrais da Ásia trouxeram à tona um dilema que está dividindo os países daquele continente em relação às decisões sobre as taxas de juros: preservar o crescimento econômico ou defender o câmbio, impedindo uma desvalorização adicional da moeda nacional ante o dólar?

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Essa difícil escolha, aliás, não está restrita à Ásia, mas também é tema que se coloca em outros países emergentes, incluindo até o Brasil, uma vez que uma desvalorização demasiada do câmbio pode se traduzir em pressões inflacionárias. Por outro lado, o governo Lula antecipou o pagamento de precatórios e de outros desembolsos, como o décimo terceiro de aposentados do INSS, para dar um empurrão na demanda e no PIB, até que o efeito do atual ciclo de cortes de juros seja integralmente sentido na economia.

Ou seja, o Copom pode também ter de enfrentar o dilema de cortar menos para defender o real ou de reduzir mais a taxa Selic para estimular o crescimento econômico, o que ajudaria o governo a aumentar a arrecadação e melhorar as contas públicas.

Na semana passada, o BC da Indonésia surpreendeu os investidores ao elevar os juros em 0,25 ponto porcentual, para 6,25%, num movimento preventivo para acalmar os nervos do mercado em relação à desvalorização da sua moeda, a rupia. É verdade que o BC indonésio é o único da Ásia que tem explícito no seu mandato a defesa da moeda, além da estabilidade de preços. Há bancos centrais que também têm no mandato a preservação do crescimento econômico.

Banco Central brasileiro também deve ser afetado pelo dilema Foto: Dida Sampaio / Estadão

As moedas da Ásia estão entre as que mais se desvalorizaram nos países emergentes, após o mercado passar a precificar menos cortes dos juros americanos pelo Federal Reserve com as surpresas para cima nos índices de inflação e de atividade dos Estados Unidos, além do impacto da piora na situação geopolítica mundial. Já o BC da Malásia, mesmo destacando que o câmbio está “subvalorizado”, manteve a taxa básica inalterada em 3% na sua última decisão, quando a sua moeda (ringgit) havia caído para o menor nível ante o dólar em 26 anos.

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Enquanto a inflação estiver sob controle, o BC da Malásia deverá priorizar o crescimento econômico (o PIB foi negativo no quarto trimestre de 2023), e não a perda no câmbio. Lá, a inflação anual ficou em 1,8% em março. O foco da Indonésia está na rupia, cuja perda ante o dólar é de 5% neste ano. Já o Brasil está com a inflação desacelerando, mas a perda de credibilidade da âncora fiscal está pressionando as expectativas inflacionárias e, por tabela, o câmbio.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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