Cresceu significativamente a probabilidade, nas últimas semanas, de uma derradeira elevação da taxa Selic no atual aperto monetário do Banco Central, embora a maioria dos investidores ainda esteja apostando que o ciclo de alta de juros acabará inalterado em 13,75% na reunião do Copom na semana que vem.
Na sua última reunião, no início de agosto, o Copom sinalizou que, diante dos efeitos defasados do aperto monetário em curso e das expectativas de inflação próximas da meta no seu horizonte relevante, até o primeiro trimestre de 2024, seria provável encerrar o ciclo de alta de juros neste mês. Ao mesmo tempo, o BC reconheceu que as incertezas nos cenários doméstico e externo eram bastante elevadas.
E, de lá para cá, de fato, muita coisa aconteceu: a percepção de risco fiscal a partir de 2023 aumentou, os principais bancos centrais do mundo endureceram a postura sobre os próximos passos das suas políticas monetárias e, por fim, apesar da queda nos últimos índices de inflação, a alta de preços se mostra ainda persistente quando se excluem os itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos.
Não à toa, nas últimas semanas o presidente do BC, Roberto Campos Neto, veio a público lembrar o mercado de que, talvez, seja necessário um ajuste residual dos juros na próxima reunião do Copom. Na visão dos analistas, esse ajuste seria de 0,25 ponto porcentual, levando a Selic para uma taxa de 14%.
Do ponto de vista fiscal, aumentou muito o ruído desde a última reunião do Copom, em razão de os candidatos que lideram a corrida para a eleição presidencial – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) – terem dado sinalizações na direção contrária de colocar as contas públicas nos trilhos já em 2023, quer seja pela promessa de aumentar os valores de benefícios e transferências de renda ou pela intenção de permitir isenções às regras fiscais para aumentar gastos.
A menos de duas semanas da eleição presidencial, o Copom tomará sua decisão no escuro sobre o que será a política fiscal em 2023.
Do lado externo, a reunião do Copom acontece no mesmo dia em que o Federal Reserve (Fed) anunciará a decisão sobre juros nos Estados Unidos. A expectativa é de alta de, pelo menos, 0,75 ponto. Também outros bancos centrais, como o da Zona do Euro, devem elevar de forma mais agressiva os juros.
Assim, mesmo se o Copom resistir em dar uma alta residual na Selic, dificilmente começará a cortar os juros tão cedo, em março de 2023, como o mercado chegou a precificar. Isso só deve acontecer no segundo semestre.
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