Na reta final da eleição presidencial, os investidores estão se agarrando a qualquer indicação de quem fará parte da equipe econômica ou sinalização da política fiscal num eventual novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, no cenário da esmagadora maioria do mercado, será o vencedor do pleito. Tudo isso para tentar responder à seguinte dúvida: haverá um rali dos ativos brasileiros pós-eleição, quer seja no primeiro ou no segundo turno?
O primeiro gostinho dessa reação aconteceu quando Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, anunciou seu apoio a Lula. Naquele dia, o “efeito Meirelles” contribuiu para o Ibovespa subir 2,33% e o dólar cair 1,79%.
Se possível ou não inferir o rumo da nova política econômica apenas com esse apoio de Meirelles, a única certeza dos investidores é de que, caso Lula seja eleito, ele começará o seu mandato em meio a um dos mais desafiadores períodos da economia global dos últimos anos: vários países desenvolvidos em recessão, inflação elevada e um dos ciclos de alta de juros mais agressivo desde a década de 1980 pelos principais bancos centrais do mundo.
O espaço de manobra do próximo presidente será muito estreito, e qualquer erro no anúncio da política econômica a partir de 2023, na visão do mercado, terá suas consequências amplificadas num momento em que os investidores estão fugindo do risco e buscando refúgio em ativos considerados seguros, como o dólar.
Não só as Bolsas de Valores vêm sucumbindo ao nervosismo com a ameaça de recessão: os preços das principais commodities, como minério de ferro, também estão em queda forte, o que afeta a balança comercial de países exportadores de matérias-primas, a exemplo do Brasil.
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É justamente com base na falta desse espaço de manobra que muitos investidores estão apostando que a política econômica de um eventual governo Lula tenderá a rumar para o centro em relação ao discurso adotado até o momento na campanha, em particular em relação à política fiscal.
Por enquanto, a aposta de analistas é de que, se decidir abandonar o teto de gastos, por exemplo, o petista colocará no lugar algum arcabouço fiscal, mesmo que mais flexível do que o teto, mas com limites para despesas do governo.
O temor é com uma possível volta de políticas anticíclicas, as quais sempre foram recebidas com desconfiança pelo mercado. Ao contrário do que encontrou durante boa parte do seu primeiro mandato em 2003, com o crescimento espetacular da China, Lula vai surfar contra uma maré global desfavorável.
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