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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião | Fed faz outro diagnóstico errado sobre a economia americana

A despeito da alta de juros, a economia dos EUA mantém sua força e desafia previsões do mercado

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Foto do author Fábio Alves

Os mercados globais estão observando um movimento de aversão a risco de grande magnitude, o que vem causando nas últimas semanas forte valorização do dólar, tombo das Bolsas de Valores mundiais e disparada nos juros futuros de vários países. Esse estresse atingiu o Brasil em cheio.

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A turbulência teve como gatilho a sinalização do principal banco central do mundo, o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos, de que manterá os juros básicos americanos em patamar elevado por muito mais tempo do que se imaginava inicialmente. Houve analistas que até chegaram a esperar que o Fed fosse começar a cortar os juros já no início de 2024 e que, após o início desse ciclo, a redução da taxa básica fosse agressiva.

Nada disso. Na sua última reunião de política monetária, na semana passada, o Fed não somente indicou que ainda pode fazer uma elevação derradeira dos juros até o fim deste ano, como também reduziu – assim que começar o afrouxamento monetário – a sua estimativa de cortes em 0,50 ponto porcentual tanto em 2024 quanto em 2025. Depois dessa sinalização, os juros dos títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos atingiram o maior patamar desde 2007.

Por trás desse movimento, está mais um erro de diagnóstico do mercado e, em especial, dos próprios diretores do Fed. O primeiro foi quando o Fed disse que a disparada da inflação americana, logo após a pandemia de covid, seria transitória. Não foi. E o Fed teve de correr atrás do prejuízo ao promover o maior ciclo de alta de juros desde a década de 1980, com a taxa atualmente na faixa entre 5,25% e 5,50%.

Fed é o Banco Central dos Estados Unidos Foto: AP Photo/Andrew Harnik

Agora, tanto o Fed quanto analistas e investidores erraram feio ao não anteciparem a resiliência da atividade econômica. Houve quem tivesse projeção de recessão dos EUA já no quarto trimestre deste ano. Mas a economia americana vem surpreendendo todos: o PIB cresceu bem acima do esperado no primeiro trimestre (alta anualizada de 2%) e no segundo (2,1%). E, neste terceiro trimestre, o monitor do Fed de Atlanta – referência no mercado – aponta para um crescimento anualizado de 4,9%. Já a taxa de desemprego, apesar de toda a alta de juros, se encontra em 3,8%, próxima do seu nível histórico de baixa.

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Não à toa, o Fed revisou sua projeção de PIB para 2023 (de 1% para 2,1%) e 2024 (1,1% para 1,5%). Nesse cenário, a desinflação em direção à meta será bem mais lenta do que o Fed gostaria. Como os EUA exercem maior influência nas condições financeiras globais, diagnósticos equivocados sobre a inflação e a economia assumem proporções de crise.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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