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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião | A má notícia do atacado: reposição de estoques pode pressionar a inflação

O IPP antecipa em seis meses a variação dos preços dos bens industriais no IPCA do IBGE

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Foto do author Fábio Alves

Após registrar queda de 3,3% em 2023, o IGP-DI — um dos índices de preços no atacado — deu um salto e subiu 6,86% no ano passado, mas a má notícia para 2025 é que esses preços ainda não captaram toda a desvalorização observada no câmbio desde o último trimestre de 2024 e que ainda deve ser repassada pelos produtores, pressionados por matérias-primas mais caras. A magnitude desse repasse cambial ao varejo é uma incógnita para a inflação oficial deste ano.

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Evidências dão conta de que grande parte dos estoques de produtos até o fim do ano passado foi comprada por varejistas com um dólar ao redor de R$ 5,50. A reposição desses estoques no início deste ano provavelmente será feita com a moeda dos EUA acima de R$ 6.

“Há notícias indicando que diversos setores da indústria pedem reajustes de, em média, 8% e 10%”, diz o chefe de pesquisa macroeconômica da Kinitro Capital, João Savignon. “Esses aumentos em negociação envolvem setores como alimentos, higiene, beleza e eletro-eletrônicos.”

A estimativa dele para o IPCA de 2025, de 6,5%, é a mais alta no mercado, por enquanto. Essa projeção é resultado, em boa parte, da variação esperada por ele neste ano para os preços de bens industriais, os quais sofrem o impacto direto do câmbio e também das cotações das commodities. Savignon, que trabalha com um dólar a R$ 6,20 ao fim do ano, prevê uma alta de 7,5% no item “bens industriais” do IPCA em 2025.

Próxima reposição de estoque já deve ser com o dólar a R$ 6 Foto: Paulo Pinto/Estadão

O fato é que a inflação deste início do ano já está contratada pelo que ocorreu com o índice CRB (Commodity Research Bureau) em reais, que subiu 30% em 2024. Esse índice em reais incorpora a variação do dólar ante o real em 2024, além da oscilação nos preços das principais commodities agrícolas, metálicas e de energia.

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Savigon diz que o índice CRB em reais antecipa o movimento no índice de preços ao produtor (IPP), do IBGE, em três meses. No acumulado de 12 meses até novembro, último dado disponível, a alta do IPP era de 7,9%. Ou seja, os preços na porta da fábrica dos produtores ainda não refletem a variação nos preços em reais das matérias-primas. Savignon prevê que, nos próximos três meses, o IPP alcance alta anualizada de 17,6%. O IPP antecipa em seis meses a variação dos preços dos bens industriais no IPCA.

O choque de juros pelo Copom, elevando a taxa Selic para 14,25% até março, não deve reverter esse repasse da alta nos custos aos preços em 2025, mas talvez evite que o impacto do dólar contamine o IPCA de 2026, ao desaquecer a demanda e controlar as expectativas de inflação.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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