Os investidores locais — e não mais somente os estrangeiros — voltaram a ficar enamorados pelo governo Lula após o avanço de uma série de medidas importantes da agenda econômica destacar o Brasil entre os países emergentes, em meio a um ambiente global de maior apetite ao risco.
O resultado disso é uma impressionante recuperação da Bolsa de Valores, do câmbio e do mercado futuro de juros. Ao fim do primeiro semestre, o dólar teve a maior queda em sete anos, chegando a cair abaixo de R$ 4,80. O Ibovespa registrou a maior alta no período em quatro anos, rondando os 120 mil pontos.
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Mas o otimismo com o Brasil não se limita aos preços dos ativos: as expectativas inflacionárias registraram queda forte nas últimas semanas ao mesmo tempo em que as projeções de crescimento do PIB neste ano deram um salto. Em apenas um mês, a estimativa de inflação em 2023 teve uma redução de 0,7 ponto porcentual, para 4,98%. E a previsão do PIB subiu 0,5 ponto, para um crescimento de 2,19%. Quanto aos juros, o consenso das apostas de analistas é de que a taxa Selic caia dos atuais 13,75% para 12% ao fim do ano.
O que ainda não dá para prever é o impacto político deste incipiente período virtuoso da economia brasileira. Poderá Lula repetir uma disparada nos índices de aprovação e de popularidade observados durante os seus dois primeiros mandatos no comando do Palácio do Planalto? Os lucros políticos de um novo ciclo de expansão do PIB, de melhora na inflação e de alta nos preços dos ativos já serão colhidos nas eleições municipais em 2024?
Parte importante do avanço de pautas fundamentais na economia foi, na realidade, devido ao esforço do Congresso, particularmente do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Foi na Câmara que a proposta original do novo arcabouço fiscal, enviada pelo governo, tornou-se mais rígida no controle do gasto público. E fica também na conta de Lira o esforço para votar e aprovar a reforma tributária, além do retorno do “voto de qualidade” no Carf, crucial para melhorar a arrecadação e permitir cumprir as metas fiscais.
Por outro lado, são inegáveis as escolhas acertadas do governo em relação à agenda econômica, a despeito dos ruídos causados pela retórica mais agressiva de Lula em relação, por exemplo, ao Banco Central. A manutenção da meta de inflação em 3% passou confiança ao investidor de que, apesar do discurso, o governo Lula optará por uma política econômica responsável. Maior confiança atrai investimento e consumo. Resta saber se é prematuro o mercado já fazer o “L”.
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