A força do mercado de trabalho brasileiro foi um dos principais motivos para o desempenho melhor do que o esperado da economia no primeiro e segundo trimestres deste ano, com a taxa de desemprego no menor nível em dez anos e aumento forte na renda e na geração de postos de trabalho formais.
Na próxima sexta-feira, 30, o IBGE divulga os dados referentes a julho da Pnad Contínua. No trimestre encerrado em junho, a taxa de desocupação caiu para 6,9%, a menor desde junho de 2014. Terá o desemprego no Brasil atingido o seu piso no atual ciclo econômico ou há mais espaço para recuar? Afinal, um mercado de trabalho mais apertado pressiona para cima a inflação, em especial os preços de serviços.
“As mínimas da taxa de desemprego devem ter sido atingidas agora no meio do ano, e (a taxa) deve começar a subir, ainda que timidamente, nos próximos trimestres – em linha com alguma desaceleração da economia”, diz Júlia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco. Ela projeta uma taxa de desemprego, com ajuste sazonal, de 7,3% no fim deste ano, subindo levemente para 7,5% em 2025.
“Apesar de algum aumento da taxa de desemprego até o final de 2025, o nível de desocupação seguirá historicamente baixo, indicando um mercado de trabalho ainda resiliente”, explica Júlia.
Segundo ela, a força do mercado de trabalho reflete uma economia que está aquecida, seja pela recuperação pós-pandemia – em especial no setor de serviços, que tipicamente emprega mais –, seja pelas políticas de transferência de renda e pelo ciclo benigno de crédito, que impulsionam a demanda interna por bens e serviços e incentivam as empresas a contratar mais.
“Não há como descartar que a robustez do mercado de trabalho observada nos últimos anos seja também reflexo da reforma trabalhista brasileira, implementada em 2017, que trouxe uma série de mudanças significativas que visaram flexibilizar as relações de trabalho, modernizar a legislação e estimular a criação de empregos”, diz a economista do Itaú.
Aliás, a reforma trabalhista pode ter contribuído para a queda da taxa neutra de desemprego, abaixo da qual a pressão sobre a inflação começa a aumentar. Nos cálculos do Itaú, essa taxa neutra estaria em torno de 9%.
Um——. Não à toa, o mercado de trabalho ganhou relevância para as próximas decisões do Banco Central.
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