O IBGE divulga na sexta-feira a variação do IPCA em dezembro e também a do ano inteiro de 2024, mas, olhando as expectativas de analistas para a trajetória dos índices de preços ao consumidor em 2025 e 2026, cresce a dúvida se a inflação já mudou de patamar – em razão da política econômica escolhida pelo presidente Lula – ou se a alta nas projeções do mercado é apenas um soluço.
A desvalorização do câmbio, o mercado de trabalho ainda apertado e o sentimento de desarranjo fiscal estão empurrando cada vez mais as projeções de inflação para bem acima da meta de 3% perseguida pelo Banco Central, cujo choque de juros não surtiu efeito em conter as expectativas do mercado. O Copom sinalizou que a taxa Selic será elevada para 14,25% até março, mas o consenso das apostas entre analistas é de que os juros subam até 15% no ano, pelo menos.
Para o IPCA de dezembro, o consenso das estimativas é de uma alta de 0,58%, o que levaria o índice fechado de 2024 para 4,89%. Para 2025, a mediana aponta para inflação de 4,99%. Mas essas projeções vêm piorando a cada semana, acompanhando, em parte, a subida do dólar em relação ao real brasileiro. E, mesmo assim, o viés é de alta para essas estimativas do IPCA, com analistas argumentando que o grosso do repasse cambial aos preços na economia ainda está por vir. Há até os mais pessimistas que estão prevendo uma inflação de 6,5% em 2025.
O piso da inflação passou para 4%? Poderão empresários, prestadores de serviços e outros agentes da economia começar a fazer reajustes preventivos nos seus preços se não acreditarem mais que a inflação volte para a meta de 3% no médio prazo? Na prévia do IPCA de dezembro, o núcleo da inflação de serviços registrou alta de 8,5% na taxa anualizada da média móvel trimestral. Por essa mesma medida, a média dos núcleos da inflação acelerou para 5,4%, taxa mais alta desde maio de 2023. É um ritmo que assusta, mostrando que a dinâmica dos preços pode piorar muito no futuro próximo.
O Copom pode até adotar uma postura dura, levando os juros às alturas, mas, se o presidente Lula teimar em não fazer um ajuste crível nas contas do governo, a piora na percepção do risco fiscal poderá sabotar a política monetária. A credibilidade do arcabouço fiscal segue em xeque. Não à toa, quase ninguém acredita que o dólar cairá abaixo de R$ 6 em 2025. Com mecanismos de indexação na economia brasileira, o risco de a inflação mudar de patamar não é irrelevante. E ainda rezando para não haver um choque de preços por evento climático ou geopolítico.
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