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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Sem regra robusta, novo arcabouço fiscal não passará de mera carta de intenções do governo

Quanto mais rígidas no curto prazo as regras desse novo regime fiscal, maior será o efeito positivo sobre a confiança do mercado

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Atualização:

Com o anúncio prometido para março pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os investidores aguardam ansiosamente para saber se a proposta do novo arcabouço fiscal terá dentes suficientes para reverter a piora na percepção de risco nas contas do governo ou se sua mordida será banguela, sem força para controlar a trajetória da dívida pública.

O novo regime fiscal substituirá o moribundo teto de gastos, aprovado em 2016. É unanimidade entre analistas que, sem incluir algum mecanismo crível de controle das despesas, o seu impacto será muito limitado sobre a confiança do mercado. Ou seja, pouco fará para dissipar o temor sobre a trajetória das contas do governo e da dívida pública. Com isso, as expectativas de inflação no médio e no longo prazos seguirão elevadas, mantendo a pressão sobre o Banco Central e o nível dos juros básicos.

Investidores aguardam para conhecer a proposta do novo arcabouço fiscal, prometida por Haddad para março.  Foto: Adriano Machado/Reuters

Até agora, integrantes do Ministério da Fazenda deram sinalizações vagas sobre o desenho do novo arcabouço fiscal, prometendo apenas que haverá regras que deem “previsibilidade sobre a evolução das despesas”. Ninguém do mercado tem a menor ideia do que está por vir, porém praticamente todo mundo concorda sobre os parâmetros que tornariam essa regra de controle das despesas crível aos olhos dos investidores.

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O primeiro ponto importante a ser analisado é o que vai ser considerado gasto e o que será considerado investimento na proposta do novo arcabouço fiscal. Se, por exemplo, todos os gastos sociais com educação e saúde forem considerados como investimentos – portanto, fora da regra de controle das despesas –, o mercado classificará a nova âncora fiscal como bastante frouxa.

Se esse arcabouço já nascer com regras muito flexíveis, mesmo que para evitar a crítica comum de rigidez que sempre perseguiu o teto de gastos, pouco impacto terá sobre as expectativas dos analistas para a trajetória da dívida pública. Quanto mais rígidas no curto prazo as regras desse novo regime fiscal, maior será o efeito positivo sobre a confiança do mercado. Também é preciso ver como será o texto final aprovado pelo Congresso da proposta a ser apresentada por Haddad. Poderá essa proposta ser até mesmo bombardeada pelo próprio PT, que sempre se mostrou rebelde às amarras ao gasto público?

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De qualquer forma, sem uma regra robusta de controle de despesas e que também garanta a sua execução, prevendo gatilhos para corrigir deslizes, o novo arcabouço fiscal não passará de uma mera carta de intenções do governo sobre o que vai ser a trajetória fiscal no médio prazo. E de boas intenções...

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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