A reação de vários analistas e investidores ao longo do fim de semana, após a notícia da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump foi a de que, entre outras afirmações, o ataque praticamente consolidou a vitória do candidato republicano à eleição presidencial americana em novembro. Sem falar na disparada na probabilidade da vitória de Trump nas casas de apostas.
É prematuro achar que a eleição já está ganha. É natural haver um aumento de apoio em momentos tão dramáticos como esse. Mas, até novembro, parece que há ainda uma eternidade, diante do que já aconteceu na campanha eleitoral tanto de Trump quanto de Joe Biden nas últimas semanas.
Que o ataque consolida a base de apoio de Trump ninguém duvida.
Que a postura de Trump logo após o disparo dos tiros, com ele de punho em riste, gritando “fight, fight” (“lute, lute”) para uma multidão enlouquecida, somente reforçou a postura de força dele ante a imagem de fraqueza física e mental de Biden, especialmente após aquele desastroso debate.
Mas o que realmente interessa neste momento é como o atentado a Trump no fim de semana vai alterar a estratégia de campanha dos democratas.
O ataque a Trump vai acelerar a substituição de Biden por outro nome do partido na cabeça de chapa para a eleição presidencial?
Ou vai consolidar o nome de Biden, fazendo calar os que deputados, senadores, lideranças do partido e grandes doadores, que vêm clamando pela desistência do presidente à reeleição?
E se Biden ficar, como a campanha vai mudar de tática? Vai conseguir reunificar o partido, incluindo os que se opõem publicamente ao presidente?
Por enquanto, não está claro que tipo de impacto o evento de sábado terá sobre a campanha dos democratas.
E isso será importante para avaliar o quanto de vantagem Trump poderá abrir, beneficiando do efeito psicológico do seu atentado.
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Isso porque o impacto, o que realmente conta para avaliar as chances de vitória no pleito de novembro, é sobre a parcela dos eleitores indecisos e independentes, além dos chamados “double haters” (insatisfeitos com a opção de voto em Biden e em Trump), especialmente nos Estados americanos mais decisivos na contagem do colégio eleitoral, como são classificados esses “swing states”.
Ou seja, será preciso esperar as próximas pesquisas de intenção de voto nesses Estados pêndulos, incluindo Geórgia, Michigan, Arizona e Pennsylvania, para ver como esses eleitores indecisos e independentes vão interpretar o atentado a Trump no fim de semana.
Até agora, os eventos de maior repercussão na campanha não tiveram tanto efeito prático nas intenções de votos: tanto a condenação de Trump no julgamento de pagamento a uma atriz pornô, quanto o desempenho desastroso de Biden no debate.
É verdade que agora se trata de uma tentativa de assassinato. As imagens ao vivo pela TV foram fortes. As fotos de Trump, idem.
As tentativas de assassinato no passado recente, como a que sofreu o ex-presidente Ronald Reagan, impulsionaram a popularidade desses políticos vítimas da violência.
De qualquer forma, é inegável que a tentativa de assassinato de Trump será um divisor de águas nesta campanha da eleição presidencial americana.
A imagem de Trump sai fortalecida.
A situação de Biden ficou mais delicada.
Não seria uma surpresa que, passado dois ou três dias do atentado a Trump, os democratas voltem a colocar mais pressão para Biden desistir da sua candidatura para dar lugar a alguém com uma imagem de juventude e de vigor físico.
Até agora, Biden não ficou parado. Desde o ataque a Trump, veio a público para falar três vezes até o fim da noite de domingo. Ligou para o seu adversário.
Resta saber se só isso será suficiente.
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