Será finalmente possível avaliar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está blefando com sua retórica agressiva em temas econômicos ou se o seu novo governo será mesmo uma espécie de Dilma 3 com a indicação dos nomes que irão substituir os diretores do Banco Central cujos mandatos acabam no fim deste mês.
Ainda há analistas que dão um desconto ao tom bélico de Lula contra o nível de juros, por exemplo, classificando-o como falatório para a audiência cativa da esquerda. Isso porque, durante o seu primeiro mandato, como o BC não tinha autonomia aprovada pelo Congresso e ele podia efetivamente demitir quem o comandava, Lula delegava as críticas ao seu vice-presidente, José Alencar.
Como agora o BC tem independência por lei e ele não pode simplesmente demitir o seu presidente, Roberto Campos Neto, Lula trouxe para si a tarefa de verbalizar a insatisfação com o patamar da taxa Selic, em 13,75%; com o nível da meta de inflação; e até com a própria autonomia do BC.
Mas a nomeação dos novos diretores do BC será a prova dos noves entre o discurso agressivo para os militantes petistas e a intenção, de fato, de adotar sua versão da Nova Matriz Econômica, adotada por Dilma Rousseff e que resultou em recessão e inflação alta.
Os mandatos do diretor de Política Monetária, Bruno Serra, e de Fiscalização, Paulo Souza, acabam no próximo dia 28. Haja vista que a diretoria de Fiscalização é considerada um cargo mais burocrático e o atual ocupante é um funcionário de carreira, a preocupação recai sobre a diretoria de Política Monetária. Se o nome indicado por Lula tiver um perfil ideológico e não técnico, sem alinhamento com os outros diretores do BC, a reação do mercado será muito negativa.
Assim, estará confirmada a percepção de que os recentes ataques de Lula vão além de meros ruídos e que o presidente realmente embarcará numa política de intervenção sobre a autoridade monetária. Ou seja, daqui em diante, a cada mandato de diretor que terminar e a lei exigir uma nova nomeação, haverá a pressão para o BC se curvar e se alinhar ao que Lula quer.
Diante da turbulência com a antecipação do debate para a mudança no nível da meta de inflação, que gerou elevação nas expectativas inflacionárias e disparada nos juros futuros, seria recomendável o governo adiar a indicação dos nomes desses dois diretores do BC.
Até porque, como a lei diz que o Senado terá de aprovar as indicações de Lula, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa nem sequer foi instalada. Para que antecipar outro desgaste no mercado?
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.