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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião | Qualquer declaração de Galípolo após narrativa de ‘mordaça’ no BC terá um peso muito maior

Com toda a polêmica deflagrada, mercado irá monitorar com lupa qualquer fala de diretor do BC até o próximo dia 26, quando começa o período de silêncio que antecede a próxima reunião do Copom

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Quase ninguém do mercado com quem eu falei comprou a narrativa de “censura” e de “mordaça” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, como foi descrita em matéria da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

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Principalmente, no momento atual de autonomia do BC e de mandatos fixos para os diretores da instituição.

Não faz sentido: autonomia com censura, uma vez que ele tem mandato fixo aprovado pelo Congresso e Campos Neto não pode simplesmente removê-lo do cargo.

Por que então Galípolo se submeteria a uma mordaça? Logo ele, que sempre foi prolixo ao fazer pressão pública em entrevistas e discursos contra o nível atual da taxa de juros, enquanto trabalhou no Ministério da Fazenda.

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Em nota à imprensa, o BC negou tentativa de “censura ou cerceamento de qualquer espécie à livre manifestação” dos seus dirigentes.

De acordo com o texto da Folha, descrevendo a “clara posição” de Galípolo, ele acha que já passou da hora de o BC baixar os juros e que a manutenção das taxas em níveis elevados poderá comprometer o crescimento do País de forma fatal. E teria havido uma tentativa de condicionar as entrevistas de diretores do BC à aprovação prévia de Campos Neto.

Se Galípolo não falar nada, obviamente a confusão continua: será que ele foi constrangido a não se pronunciar? Foto: Felipe Rau/Estadão

Obviamente, essa reportagem causou grande e imediata repercussão.

Logo em seguida, o jornalista Alvaro Gribel, de O Globo, publicou um texto no qual consta que “a interlocutores, Galípolo tem dito, por sua vez, que não há razão para que diretores do banco tenham que se submeter à assessoria de comunicação do órgão, que seria ligada ao presidente do banco, não aos seus diretores”. E que Galípolo seguirá o “modelo” do Federal Reserve (Fed), uma referência que o próprio estaria fazendo.

Ou seja, pelo trecho acima, temos uma declaração indireta em “off the record” de Galípolo ou possivelmente de seus emissários ao jornalista de O Globo. No mínimo estranho, em se tratando de alguém que sempre falou muito em “on”.

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Nos dois casos, ou seja, nos textos da Folha e de O Globo, uma série de questões emerge e que não deixa Galípolo sob uma luz tão favorável.

Teria a jornalista da Folha pedido entrevista diretamente a Galípolo e, mediante uma negativa, inferido ou sido induzida a inferir uma “mordaça”?

Por outro lado, não me parece que a matéria da Folha teria surgido completamente do nada se não houvesse um vestígio de restrição a uma entrevista de Galípolo à imprensa, quer seja por parte da assessoria de comunicação do BC ou do próprio Campos Neto. Teria Galípolo sido informado de que não poderia dar entrevista e comunicado isso à jornalista?

No caso do texto de O Globo, teria Galípolo jogado mais lenha na fogueira, falando em “off” ou pedindo para interlocutores seus fazerem referência à suposta maior liberdade dos dirigentes do Fed a falar?

Não saberemos as respostas das duas dúvidas acima. Mas só de haver essas suspeições não é um bom auspício para quem se especula ser candidato a comandar o BC, substituindo possivelmente Campos Neto. É um ruído desnecessário.

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Se essa for a postura que Galípolo irá adotar daqui em diante, a barra de expectativa para um presidente do BC terá que ser bem mais baixa do que tivemos na história de quem já comandou a instituição, em termos de comunicação.

Um interlocutor desta coluna chegou a me fazer a seguinte pergunta: “Será que o RCN (Roberto Campos Neto) pediu que qualquer entrevista (de Galípolo) fosse comunicada à assessoria de imprensa e acompanhada?”.

No setor privado, por exemplo, esse é um procedimento corriqueiro, aliás.

De qualquer forma, com toda a polêmica de quarta-feira, o mercado irá monitorar com lupa qualquer declaração que Galípolo fizer até o próximo dia 26. É quando começa o período de silêncio que antecede a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 1º e 2 de agosto.

E, na véspera do início do período de silêncio, haverá a divulgação do IPCA-15. Uma nova surpresa baixista poderá aumentar a pressão e as apostas para que o início do ciclo de afrouxamento monetário comece com um corte mais agressivo de 0,50 ponto porcentual, o que seria música aos ouvidos do governo Lula.

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Portanto, qualquer declaração de Galípolo agora, após a polêmica deflagrada, terá um peso muito maior.

E, se ele não falar nada, obviamente a confusão continua: será que ele foi constrangido a não se pronunciar?

Ou seja, quer ele fale ou não até o início do período de silêncio — e na singela expectativa de que ele também não quebre essa institucionalidade, uma vez que o próprio Campos Neto já o fez ao se encontrar com o ministro Fernando Haddad na véspera da decisão do Copom, num claro desserviço —, a confusão nada ajuda a reduzir a tensão que já envolve o BC e o governo Lula.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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