Na primeira reunião do Copom do ano, com a maioria dos diretores indicados pelo presidente Lula, muitos participantes do mercado ressuscitaram um verbo de tempos mais criticados da política monetária para falar sobre o desfecho da decisão hoje: “O Banco Central vai ‘tombinar’?”.
A referência é a Alexandre Tombini, então presidente do BC durante o governo Dilma Rousseff e que foi duramente criticado por adotar uma política monetária menos restritiva do que as condições na época exigiam. Mas não estaria a pergunta acima fora do lugar diante do choque de juros anunciado pelo Copom na sua última reunião de 2024?
Em dezembro, o Copom elevou os juros em 1 ponto porcentual, para 12,25%, e sinalizou outras duas altas na mesma magnitude para as reuniões de hoje e de março, quando a taxa Selic chegará a 14,25%. Assim, o que está em jogo não é o tamanho da alta de juros, mas o que será sinalizado para o futuro próximo no comunicado que acompanhará a decisão hoje.
Seguirá o Copom contratando o ritmo de alta de juros para as duas reuniões seguintes à de março, como fez em dezembro? Poderá sinalizar o que vai acontecer apenas com antecedência de uma reunião, no caso a de maio? Ou simplesmente dirá que a decisão seguinte dependerá dos dados da economia e das condições externa e interna, deixando em aberto até a possibilidade de o ciclo de alta de juros acabar em março, com a taxa a 14,25%?
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O problema é que, apesar do choque de juros sinalizado em dezembro, desde então as expectativas de inflação pioraram muito, em vez de recuar, como seria o esperado. A projeção do IPCA de 2025 saltou de 4,59% para 5,50%. E a de 2026, de 4% para 4,22%. Isso significa que, na visão do mercado, uma Selic a 14,25%, como o Copom prometeu para março, não é suficiente para trazer as expectativas de inflação em direção à meta de 3%. Se o comunicado não indicar a continuidade da alta de juros para além de março, os analistas vão interpretar isso como uma postura mais frouxa, daí a dúvida sobre o BC “tombinar”.
Diante das incertezas externas (o que vai fazer o presidente americano Donald Trump em relação às tarifas de importação, por exemplo) e das domésticas (a credibilidade do arcabouço fiscal), o cenário mais provável talvez seja o de o Copom confirmar a alta de 1 ponto para março e sinalizar que para a reunião seguinte a Selic será elevada de novo, porém sem se comprometer com o tamanho da alta. Até porque a magnitude do ajuste dependerá de onde estarão a cotação do dólar, as projeções de inflação e o ritmo da economia.