O dólar registrou em 2023 sua primeira queda anual em três anos em relação a uma cesta de divisas de países desenvolvidos e tudo parecia que esse poderia ser o roteiro de 2024, mas o surpreendente desempenho do mercado de trabalho e da atividade econômica nos Estados Unidos em janeiro pode marcar uma nova tendência de valorização global da moeda americana.
Em 2023, o índice DXY, que mede a variação do dólar em relação a outras moedas fortes, encerrou com uma perda de 2,5%, embora essa queda tenha sido maior nos últimos meses do ano, quando o mercado passou a fazer uma aposta mais agressiva de cortes dos juros americanos pelo Federal Reserve (Fed) em 2024, incluindo uma primeira redução da taxa básica já em março.
Na virada do ano, essa toada parecia prosseguir. Mas agora muita coisa mudou. Primeiro, o Fed sinalizou que um corte de juros em março está fora de questão. Depois, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho, em particular os dados sobre ganhos salariais, forçaram um adiamento das apostas sobre o primeiro corte de juros de março para maio. E mesmo a probabilidade de isso acontecer em maio não é garantida.
Um número crescente de analistas vem mudando a visão sobre o que vai acontecer com a economia americana neste ano. Não faz muito tempo, a esmagadora maioria dos analistas previa uma recessão nos EUA em 2024, até como consequência do ciclo de alta de juros, com a taxa básica atualmente na faixa entre 5,25% e 5,0%. Como os indicadores do mercado de trabalho começaram a mostrar maior resiliência, os analistas passaram então a apostar no chamado “pouso suave”: uma desaceleração, mas não uma contração prolongada e profunda.
Mas, diante das últimas leituras dos dados de atividade, já há quem aposte que não haverá nem sequer “pouso” e que o PIB americano corre o risco até de voltar a se acelerar. Em janeiro, foram criadas 353 mil vagas de empregos nos EUA, quando o mercado esperava um número bem menor, de 195 mil. O monitor do PIB do Fed de Atlanta – uma referência para investidores – aponta um crescimento de 4,2% neste primeiro trimestre, após a expansão de 3,3% no quarto trimestre de 2023. Não à toa, o índice DXY fechou, na segunda-feira passada, no maior nível em onze semanas.
O risco é de o Fed postergar os cortes de juros ou de reduzir menos a taxa do que a aposta do mercado. Ou que o PIB americano cresça a um ritmo mais acelerado do que na Europa, na China e no resto do mundo. Nesse contexto, de juros mais apertados e de PIB robusto, o dólar é o vencedor.
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