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Professor de Finanças da FGV-SP

Caso da Americanas ilustra por que o investidor deve diversificar seu portfólio

Quem investisse todos os seus recursos em março de 2020 nas Americanas teria pagado pela ação R$ 42,62; em agosto do mesmo ano, sua riqueza teria crescido 182%; hoje, o investimento teria virado pó

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Foto do author Fabio Gallo

Não é novidade que o mundo das finanças lida com vários axiomas. Dentre eles, muitos são corretos, outros tratados como verdades absolutas, embora questionáveis. Mas o fato é que investidores acreditam piamente em alguns “ditos” e os praticam no seu dia a dia. Esse tipo de atitude é impulsionado pelos influencers que oferecem fórmulas “certas” para as pessoas ganharem muito dinheiro com oportunidades de mercado que ninguém viu. Também aparece em textos de instituições financeiras e empresas de análises.

Em alguns casos, é distorcido o sentido mais correto do que é um axioma, e são negados princípios básicos da teoria de finanças. Um dos princípios negados muitas vezes é o da diversificação de investimentos. Para isso, um dos axiomas mais usados foi criado por Max Gunther no livro Os Axiomas de Zurique, que diz: “O fato é que a diversificação, ao reduzir os riscos, reduz também, na mesma medida, qualquer esperança de que você possa ter de ficar rico.” Em outras palavras, não diversifique e você ficará rico.

Investidores minoritários da Americanas saem perdendo  Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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Vamos por um instante admitir que isso seja verdade. Então, quem investisse todos os seus recursos em março de 2020 nas Americanas (AMER3) teria pagado pela ação R$ 42,62; em agosto do mesmo ano seria o mais astuto investidor do planeta porque a sua riqueza teria crescido 182% em cinco meses. Se tivesse vendido nesse momento teria colocado no bolso uma bolada. Um ano depois já estaria no zero a zero e teria perdido para a inflação do período. Mas, se fosse insistente, hoje aquele investimento teria virado pó. Em 11 de janeiro de 2023, a ação valia R$ 12, dia em que a companhia comunicou à CVM o rombo de R$ 20 bilhões em suas contas. No dia seguinte, o tombo foi de 75% e nos dias posteriores chegou a centavos de real.

Nada está muito claro e perguntas sobre a ação de pessoas, instituições, bancos, auditoria devem ser respondidas. Novamente, quem está perdendo são sempre os mesmos, os minoritários. Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, os acionistas de referência que possuem 30,13% do capital da empresa, estão se colocando na posição de vítimas, mas receberam bons dividendos ao longo de anos.

Esse caso é um exemplo, entre muitos, mostrando que observar as bases de finanças não é jogar dinheiro fora. Ninguém está dizendo que quanto maior a diversificação melhores serão os ganhos. Isto também seria irracional. Diversificar é distribuir o dinheiro em diversos ativos numa estratégia de redução do risco e obter um retorno relativo maior em médio e longo prazo. Afinal, a vovó estava certa: filhinho, não coloque todos os ovos na mesma cesta.

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