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Professor de Finanças da FGV-SP

O Brasil não é para (investidores) principiantes. Será?

Dados mostram falta de maturidade de investidores e conflito por parte de assessores

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Foto do author Fabio Gallo

Tom Jobim dizia que “O Brasil não é para principiantes”. Acho que ele está certo no geral, basta ver o que está acontecendo na política, na economia, na sociedade e em outros campos. Mas, no campo de investimentos as coisas estão difíceis até para os profissionais. No caso das gestoras de fundos, conhecidas como assets, a vida não está nada fácil.

Em 2020, estávamos presos em casa por conta da pandemia, a taxa Selic em 2%, e houve o boom de captação de recursos por parte dos fundos. Os investidores estavam à procura de ativos que trouxessem retornos maiores, mesmo com mais riscos. Mas a retomada da atividade econômica, o desarranjo das cadeias de distribuição e, se não bastasse, uma guerra na Europa, levaram a subida da inflação e ao receio de recessão em escala mundial. No nosso país o combate à inflação nos devolveu os juros reais mais altos do mundo.

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Isso levou a que as captações líquidas das gestoras de investimentos em 2022 fossem negativas. Segundo dados da Anbima, o resultado entre entradas e saques dos fundos de investimentos foi negativo em R$162,9 bilhões, o que representa queda de 139,5% em relação a 2021, a despeito de o patrimônio líquido dos ativos ter crescido 7,1% no ano passado, mas com a Selic a 13,75% e a inflação acumulada em 5,79%. Os fundos multimercados foram os que mais sentiram com saques líquidos quase R$90 bilhões.

Neste ano as coisas continuam ruins para esse mercado. A Anbima aponta, com dados até 20 de abril, que a captação líquida dos fundos foi negativa neste ano em R$65,4 bilhões. O fato é que os investidores migraram para portos mais seguros como o Tesouro Direto e outros títulos isentos de tributação. O crescimento do volume de recursos no Tesouro Direto foi de 32,7% em 2022 e de 5,1% neste ano até março. O estoque de recursos atinge R$110,5 bilhões, tendo o maior volume em títulos indexados à inflação e com prazos de 1 a 5 anos. A poupança, que rendeu no ano passado 7,89%, perdeu volume de recursos (R$103,2 bi), o que continua em 2023, com perda de R$57,5 bilhões. Mas ainda acumula um volume de recursos de R$967,5 bilhões.

Fachada da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Felipe Rau / Estadão

Esses saques na poupança mostram que os problemas financeiros estão pesando, não é à toa que 78% das famílias brasileiras estão endividadas. Pelo lado da indústria de fundos, os dados mostram alguns problemas, primeiro uma falta de maturidade de educação financeira dos investidores e, ao mesmo tempo, situações de conflito por parte de assessores de investimento das assets que aparentemente pensaram mais nas comissões, indicando o que rende mais, sem deixar claro o risco corrido. Toda essa situação acabou por simplificar a vida do investidor que foi para a renda fixa sem risco. Enfim, o Brasil é complicado para todos, não só principiantes.

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