O governo brasileiro está que nem barata tonta com a queda de popularidade, o diagnóstico é que o operador da comunicação governamental que era o problema. Admitir problemas políticos e de condução do governo aparentemente não faz parte do roteiro. Para poder lidar com a baixa popularidade “novas ideias” são buscadas a todo custo. A desta semana foi ampliar o acesso ao crédito consignado aos trabalhadores do setor privado.
O diferencial agora é permitir que os bancos tenham acesso direto aos dados da folha de pagamento do setor privado e, com um detalhe importante, sem passar pelos empregadores, eliminando assim custos e simplificando o processo, além do uso do FGTS como garantia.
O acesso dos bancos irá ocorrer por meio do eSocial, plataforma que centraliza todas as informações do trabalhador, como vínculos, contribuições previdenciárias, acidentes de trabalho, aviso prévio e dados sobre o FGTS. O objetivo é permitir que os bancos ofereçam propostas de crédito e, assim, o tomador poderia comparar as taxas oferecidas.
A intenção do governo é aumentar sua popularidade justamente com medidas de forte apelo à massa de trabalhadores que em tese irão se beneficiar com taxas de juros mais baixas em comparação com outros tipos de crédito, como o rotativo do cartão e o cheque especial, para utilização no consumo e pagamento de dívidas.

Na economia, o maior volume de crédito estimula o consumo, impulsionando setores como varejo, turismo e serviços. Obviamente, quem ganha muito com isso são as instituições financeiras, que têm risco muito baixo nesse tipo de operação, com inadimplência muito reduzida.
Cenário bonito com todos ganhando com a novidade. Mas, as coisas não são bem assim. O risco de superendividamento é algo real e que deve ser considerado. Em muitos casos, pessoas já endividadas tomam novos empréstimos consignados para pagar dívidas anteriores, entrando na bola de neve do endividamento sem fim.
As pessoas esquecem que com esse tipo de crédito ao chegar na boca do caixa para sacar o salário, a prestação com juros já foi descontada e vai faltar dinheiro para a comida e para comprar remédios. Além disso, infelizmente, acontece que muita gente pega esse crédito para investir, acreditando que está fazendo um bom negócio.
No Brasil temos 73 milhões de endividados, 77% das famílias nessa condição. Mas, o governo resolve o seu problema, os bancos aumentam os ganhos e ainda têm um canal ampliado de Open Finance. Os golpistas também ficam felizes, novas oportunidades surgem. E quem paga a conta? São sempre os mesmos, os mais vulneráveis. E a festa continua.