Muitas pessoas se perguntam por que as importações brasileiras estão crescendo, mesmo com o dólar no patamar atual. Sem dúvida, o câmbio alto é um fator restritivo, mas não impeditivo para o crescimento das compras no exterior. Diferentemente de 2023, quando a balança comercial brasileira teve o segundo maior superávit desde 1987, neste ano as compras além fronteiras cresceram bastante, com alguns setores da economia se destacando.
No primeiro semestre, houve um crescimento de 38% nas importações de automóveis. Somente de veículos elétricos, nos sete primeiros meses do ano as importações atingiram a marca de US$ 1 bilhão, aumento de 931% ante o mesmo período de 2023. Houve também aumento das importações de pneus, de aço e de soja.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), em agosto o superávit comercial brasileiro teve uma queda de 51% em relação a agosto de 2023. No acumulado de janeiro até segunda semana de outubro, em comparação ao mesmo período do ano passado, as exportações caíram 0,6%, somando US$ 268 bilhões, enquanto as importações saltaram 7,2%, totalizando US$ 206,49 bilhões. Assim, o superávit ficou em US$ 61,5 bilhões, uma queda de 20% e bem abaixo das expectativas do mercado.
Segundo a Câmara de Comércio Exterior (Comex), as projeções apontam para um superávit entre US$ 77 bilhões e US$ 86,5 bilhões neste ano.
Alguns fatores podem explicar o crescimento das importações mesmo com câmbio desfavorável, tais como demanda inelástica de produtos específicos, contratos de importação de longo prazo e diversificação de mercados, mas, neste momento, a recuperação econômica se mostra como a principal causa.
A utilização da capacidade instalada na indústria atingiu a 83,4%, superior à média dos últimos 11 anos que era de 79,7%. Os investimentos no setor estão crescendo, particularmente em automóveis, alimentos e siderurgia. As compras de bens de capital aumentaram em 18% nos oito primeiros meses do ano.
O alto uso da capacidade instalada coloca a indústria próxima do seu limite produtivo, o que pode gerar pressão inflacionária, gargalos produtivos, dificuldades de expansão e impacto na competitividade. Para que isso não ocorra, deve haver planejamento e ação conjunta do governo, BNDES e empresários para a realização de novos investimentos, melhorias na infraestrutura e logística, apoio à inovação, qualificação da mão de obra e fortalecimento da competitividade industrial.
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