PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Professor de Finanças da FGV-SP

O fim do dinheiro

Análise em tempos de coronavírus traz ideia de que vale mais a pena possuir terras, ouro e bitcoins

PUBLICIDADE

Por Fábio Gallo
Atualização:

As discussões sobre os problemas trazidos pela pandemia estão sendo muitas e muito ricas. Mas há de tudo, desde cavaleiros do apocalipse até Polianas que acham que o mundo é belo e que sairemos da crise melhor que antes e que a corrupção realmente está sendo combatida.

PUBLICIDADE

Uma das análises vinda de pesos-pesados do mercado e que repercutiu bastante trouxe a ideia de que poderá chegar um dia em que o dinheiro perderá seu valor totalmente e que mais valeria possuirmos terra, ouro, bitcoins e ações de empresas. Em resumo, mais vale a pena ter ativos reais do que ativos financeiros. 

O comentário foi dentro de um contexto e não foi leviano, mas foi tomado por alguns como um presságio e que devemos investir em ouro e bitcoins. Isso, sim, é leviano, se não for maldoso. Comprar bitcoins sempre é de muito risco. A moeda virtual abriu o ano em US$ 7,3 mil, em 11 de março atingiu US$7,9 mil, mas no dia seguinte caiu 39%. 

Sem polemizar, acredito que temos de entender melhor o assunto e propor uma orientação mais correta. Esse tipo de comentário nasce do fato de que, no combate ao caos econômico, os bancos centrais buscam estimular a economia oferecendo liquidez pela recompra de títulos. Principalmente o Fed, o BC americano, está praticando o afrouxamento quantitativo (“quantitative easing”- QE).

Alguns estão interpretando que está havendo emissão desproporcional de moeda “nova”. Isso não é bem verdade. As emissões apontadas no site do Fed estão dentro da programação. As autoridades monetárias não são tolas e sabem os efeitos desastrosos que pode trazer o crescimento da base monetária sem um crescimento econômico que o justifique.

Publicidade

Obviamente se houver emissão de moeda de forma desproporcional, poderemos viver fenômenos como já vividos pela humanidade, quando a moeda não consegue comprar nada por perder totalmente o seu valor. 

Apenas como exemplo, isso ocorreu na Alemanha na 2.ª Guerra Mundial, quando o marco chegou a ser impresso somente de um lado, porque saía muito caro imprimir dos dois lados. Mas, segundo a imagem agora colocada, a humanidade estaria mergulhada num caos total e nenhuma moeda teria valor, por isso seria melhor ter ativos reais.

Assim, também, temos de admitir que a característica fiduciária da moeda seria nula. Em outros termos, todos os países perderiam totalmente a credibilidade e não haveria moeda de curso forçado em lei. Fim de tudo.

Aí vem a pergunta: nessa condição, de que adianta ter ouro ou bitcoin? O ser humano não come e não bebe ouro. Ativos como esses não atendem nossas necessidades básicas. Sem declaração de temporalidade, a forma como iremos manter reserva de valor e realizaremos transações acredito que serão totalmente transformadas. Sim, é possível admitir que poderemos substituir o que hoje denominamos moeda.

Mas não dá para interpretar tema tão complexo de maneira simplista, muito menos resumir que ouro e bitcoins serão esses substitutos. E, ainda, que a humanidade não tem capacidade de reação a situações como a que estamos passando.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.