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Professor de Finanças da FGV-SP

Está chegando a hora de dizer adeus à sua carteira de couro para portar dinheiro

Avanço tecnológico vai nos levar a abandonar o meio físico para pagamentos e outras transações de forma digital, com segurança e garantia governamental

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Atualização:

Março de 2023 pode marcar o início do fim do dinheiro como conhecemos hoje, aqui no Brasil. A própria evolução das formas de relações econômicas da humanidade nos mostra o desenvolvimento da inteligência humana. Desde o escambo, com a troca direta de bens, surgiram novas palavras como “peculium”, que vem de gado miúdo.

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Da mesma forma, o termo salário tem referências históricas, como citado por Plínio, o Velho: “Sal era uma das honrarias que os soldados recebiam após batalhas bem-sucedidas. Daí vem nossa palavra salarium”. Embora o soldo dos soldados já fosse recebido em moedas à época. O surgimento da moeda física como meio de troca ocorreu na região da Lídia (Turquia) no século 7 a.C. Inicialmente, moedas de ouro e prata, posteriormente ligas metálicas menos nobres, até o papel-moeda.

O avanço tecnológico vai nos levar a abandonar o meio físico para pagamentos e outras transações de forma digital, com segurança e garantia governamental. No dia 6, o Banco Central divulgou as diretrizes do real digital, a moeda digital garantida pelo Banco Central que poderá ser usada para receber salários, mantida em conta corrente, usada em transações, pagamentos etc.

Quando o real digital estiver em funcionamento, será possível manter parte de recursos em moeda digital e realizar pagamentos até mesmo para quem não tenha esse tipo de conta  Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Quando ela estiver em funcionamento, uma pessoa poderá optar por manter parte de seus recursos em reais digitais e realizar pagamentos até mesmo para quem não tenha esse tipo de conta, transferindo os recursos por QR code, por exemplo. O real digital é uma Central Bank Digital Currency (CBDC), em outros termos, uma criptomoeda estatal voltada para pagamentos. Essa é a grande diferença do bitcoin e ativos semelhantes que são moedas digitais privadas e descentralizadas.

Outra diferença é que o real digital não tem flutuação de preço. Haverá redução de custos porque não há emissão física da moeda. As pessoas não verão diferenças no uso diário em relação aos meios de pagamento utilizados hoje, mas toda essa infraestrutura criada vai permitir o acesso a outras tecnologias, como os contratos inteligentes e o dinheiro programável.

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Numa venda de um imóvel, temos de passar o bem e receber o dinheiro, processo que deve ser feito ao mesmo tempo para garantir o recebimento e a transferência do bem, o que gera o custo da desconfiança. Com o dinheiro programável, a passagem de titularidade vai ocorrer quando da transferência do dinheiro, automaticamente. Caso alguns dos passos não se realizem, o negócio não é fechado.

O sistema criado pelo real digital, também, vai facilitar e tornar menos custosas transferências internacionais de recursos. Tudo registrado, com segurança e garantido por autoridade monetária. Está chegando a hora de dizer adeus a sua carteira de couro para portar dinheiro.

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