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Professor de Finanças da FGV-SP

Estamos realmente pensando no trabalhador com o novo crédito consignado?

Para os bancos, nada como uma linha de crédito com baixo risco, inclusive com garantia do FGTS, e com boa rentabilidade para deixar o setor financeiro mais feliz

Foto do author Fabio Gallo
Atualização:

Nesta semana, saiu a ata da última reunião do Copom, destacando que o cenário inflacionário de curto prazo permanece desafiador, que as expectativas de inflação estão desancoradas e que há um hiato do produto positivo. Como de costume, o Banco Central utiliza uma linguagem cifrada.

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No entanto, é necessário que seja visto que, se a intenção é transparência de suas decisões, a comunicação deve ser facilitada, dada a diversidade do público. Nesta última comunicação, o que foi dito é que o aumento da taxa Selic a 14,25% deve-se à inflação mais persistente, especialmente no caso dos preços nos alimentos, e que as expectativas sobre essa dinâmica estão distantes da meta de 3% prevista para este ano. Além disso, diz que a economia está superaquecida, com a demanda excedendo sua capacidade produtiva, o que pode levar a maior elevação de preços.

Como de costume, o presidente do BC é procurado para fazer declarações sobre essa situação e, mais uma vez, a clareza não acontece com tanta facilidade. Uma das frases ditas nas entrevistas é que o “crédito consignado pode gerar sensibilidade maior a movimentos dos juros”, o que significa que o crédito consignado no setor privado pode responder de forma mais intensa às mudanças na taxa de juros, afetando a economia de maneira significativa. Em caso de novas subidas de juros, o crédito ficará mais escasso e caro para o trabalhador.

Brasil tem ao redor de 69 milhões de inadimplentes e que agora muitos estão colocando em risco também o seu FGTS Foto: J. F. Diorio/Estadão

No entanto, desde o lançamento da nova linha de crédito para o trabalhador do setor privado, já foram contratados mais de R$ 1,2 bilhão, em 193.744 contratos com valor médio de R$ 6.623,48, prazo médio de 19 meses e parcelas de R$ 347,23, com a taxa média 3,11% ao mês (44,41% ao ano). A expectativa de mercado é de que o saldo total do crédito consignado do setor privado suba dos atuais R$ 41 bilhões para R$ 120 bilhões. O crédito consignado para todos os setores soma R$ 690 bilhões, e teve um crescimento próximo de 74% entre 2020 e 2025.

Para os bancos, a carteira de crédito consignado representa entre 15% e 25% do crédito para a pessoa física. Nada como uma linha de crédito com baixo risco, inclusive com garantia do FGTS, e com boa rentabilidade para deixar o setor financeiro mais feliz. Um setor que não está reclamando de seus lucros: os cinco maiores bancos cresceram em 2024 ante 2023 entre 7% e 50%. Isso num país que tem ao redor de 69 milhões de inadimplentes e que agora muitos estão colocando em risco também o seu FGTS – poupança forçada criada para proteção do trabalhador. Mas, estamos realmente pensando no trabalhador?

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