Os problemas trazidos pelas apostas online ficam cada vez mais evidentes e piores. Reportagem publicada no Estadão, nesta semana, com base em pesquisa divulgada pela Serasa e pelo instituto Opinion Box, intitulada “Bets e endividados”, mostra que 46% dos inadimplentes (pessoas com dívidas em atraso) no Brasil já fizeram apostas online alguma vez na vida. O dado é assustador em si, mas o motivo é ainda pior: mais de 44% dos entrevistados apostaram com a expectativa de ganhar dinheiro para pagar dívidas, pois 43% já estavam endividados antes de jogar.
Ou seja, o jogo está sendo visto como uma forma de sair do endividamento, mas isso acaba levando a um maior endividamento porque muitos acabam se afundando mais ainda no vermelho – quase 60% dos que jogaram perderam dinheiro, ou no máximo empataram ganhos e perdas.
Esse quadro ganha contornos dramáticos quando se olha outra pesquisa da Serasa sobre o mapa dos inadimplentes brasileiros. O último levantamento, que é de setembro, mostra que 72,64 milhões de brasileiros são devedores inadimplentes, quase 45% da nossa população. As suas dívidas somam R$ 395 bilhões, sendo que o valor médio por pessoa é de R$ 5.439,20.
Além disso, as bets estão provocando redução das compras no varejo. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou recentemente levantamento mostrando que, em 2023, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em jogos, equivalente a 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) do país – ou 22% da renda disponível das famílias, que seria destinada ao consumo no varejo e a outros setores da economia, e acaba desviada para as bets.
Esses dados mostram que o crescimento das apostas online está afetando o consumo das famílias, em detrimento de produtos e serviços essenciais. O quadro geral fica muito pior quando observamos que, além da substituição de gastos essenciais, as pessoas estão se afundando ainda mais na inadimplência. Mas, se isso é de conhecimento geral, porque ações mais efetivas não estão sendo tomadas?
Porque tem muita gente ganhando muito dinheiro com isso. As medidas tomadas até agora não estão sendo eficazes. Deve-se avançar de maneira firme e urgente na regulação da publicidade, protegendo os mais vulneráveis; criar mecanismos de suporte psicológico a jogadores compulsivos; fiscalizar firmemente e punir as bets irregulares, e fazer campanhas de educação e conscientização.
A conta está ficando alta para o Estado, e, ao final, ela será paga pela sociedade como um todo. A sensação, por ora, é de que nada muda, pois quem está ganhando são sempre os mesmos. Mas, o pior é que quem perde, também, são sempre os mesmos.
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