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Opinião|Auxílio-doença: ‘A las cosas!’ É hora de deixar a retórica de lado

A expressão na moda nos últimos tempos é ‘pente-fino’. Agora? Lembraram disso com 20 meses de atraso

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Foto do author Fabio Giambiagi

Em dezembro do ano 2000, o número de benefícios previdenciários e acidentários do auxílio-doença emitidos pelo INSS foi de 569 mil. Cinco anos depois, ele era de 1,618 milhão. Eram tempos do boom das commodities, com todo mundo feliz e pouca gente preocupada com “o fiscal”. Em dezembro de 2016, o número de benefícios da rubrica já estava em 1,695 milhão.

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Foi então que o governo (Michel Temer) se mexeu. E mostrou que as contas podem melhorar e os ralos podem ser fechados. Resultado: em 2022, o número de benefícios da rubrica em questão tinha diminuído nada menos que 36%.

Em dezembro de 2022, os benefícios de auxílio-doença foram de 1,082 milhão. Em junho de 2024, alcançaram 1,695 milhão. Um crescimento de 57%. É uma variável física. Há um elefante na sala – só o governo não tinha visto.

Manchete em 2023 dizia que 'INSS passa a conceder auxílio-doença sem perícia': era tão difícil prever que neste caso o número de concessões iria para a estratosfera? Foto: Niels Andreas/AE

Lembremos que o atual ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, se notabilizou no começo do governo por ter feito declarações com uma retórica carregada contra a reforma previdenciária de 2019, dando a entender que, se dependesse dele, vários dos seus dispositivos deveriam ser revogados. Como dizia, com sua ironia habitual, Delfim Netto, “a autoridade deve fazer como o feirante, que às 6 da manhã tem que ter as berinjelas prontas e troco para dar para a freguesia”. Em outras palavras, não inventar moda e fazer o básico. Pois isso é exatamente o que faz falta agora.

Manchete do jornal de 2023 dizia que INSS passa a conceder auxílio-doença sem perícia. Era tão difícil prever que neste caso o número de concessões iria para a estratosfera? O que acontece numa empresa quando um item de custo aumenta 50%? No primeiro mês de evidência disso, o gerente responsável não dorme até descobrir o que está acontecendo. No segundo mês, o presidente da empresa está de olho no caso. No terceiro, se o problema não foi resolvido, alguém “roda”. Já no caso em questão, o que aconteceu? Nada. A expressão na moda nos últimos tempos é “pente-fino”. Agora? Lembraram disso – com 20 meses de atraso.

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José Ortega y Gasset foi um famoso filósofo espanhol, estudioso da realidade política e social de nossos vizinhos. Certa vez, cansado das falas grandiloquentes típicas do país, ele escreveu uma frase que ficou famosa: Argentinos, a las cosas!, querendo dizer que os hermanos tinham, de uma vez por todas, de deixar a retórica de lado e resolver os seus problemas. Parodiando Ortega, sobre o auxílio-doença, cabe dizer: “Senhores, a las cosas!”.

Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

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