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Economista

Opinião | O ‘Plan Platita’ de Lula: governo repete erro da Argentina

O governo trata quem recebe R$ 5 mil como pobre. Não é. O nome disso é ‘populismo’, em nome do ‘vale tudo’

Foto do author Fabio Giambiagi

Os leitores devem lembrar que, nos anos 1980, falava-se do “efeito Orloff” entre Argentina e Brasil. A expressão era associada a uma propaganda em que um personagem dizia para o outro: “eu sou você amanhã.”

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Usava-se a ideia para explicar que o que ocorria no país hermano aconteceria depois em terra Brasilis: Plano Austral na Argentina e depois Cruzado aqui; Plano Primavera lá e Verão aqui, etc.

Agora, depois de termos assistido o governo do dublê de ministro e candidato a implementar seus planos eleitoreiros, estamos assistindo ao governo do dublê de presidente e candidato a implementar seus planos eleitoreiros por essas bandas.

Lá, o mecanismo de colocar mais dinheiro na mão das pessoas foi chamado de Plan Platita.

Lula (à direita) com o ex-ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa; aumento da faixa de isenção do IR lembra o 'plan Platita' do argentino Foto: Ministério da Economia da Argentina via AFP

O que Massa fez? Faltando meses para as eleições, aumentou o mínimo no imponible (limite de isenção) do IR para um valor muito alto, que fez com que, aprovada a mudança, poucos contribuintes pagassem IR.

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Agora, Lula, para ganhar alguns votos, pretende elevar o limite de isenção do IR para um valor recorde. É verdade que, ao contrário do caso de Massa, aqui há uma compensação, que vai na direção correta.

A proposta, entretanto, envolve dois problemas: i) queima uma boa ideia. O governo alega que pretende compensar a perda de receita com um “imposto de renda mínimo” para quem não paga pouco.

Ocorre que essa proposta específica, meritória, deveria ser a “bala de prata” para ser usada como parte de um esforço de redução do déficit.

Porém, se já será difícil passar o novo imposto, a tarefa de majorar a sua alíquota se tornará hercúlea no futuro, quando o governo, em 2027, tiver que se debruçar sobre o desafio fiscal; e ii) implica sacramentar uma perda certa de receita em troca de uma compensação tributária incerta, pois provavelmente o Congresso se encarregará de aprovar só uma fração do que o governo pretende.

Por fim, há um equívoco pedagógico.

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No conceito de “renda média de todos os trabalhos”, pela última Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, ao trazer os dados para preços de março de 2025, conclui-se que no conceito “renda habitual de todos os trabalhos”, a renda média do nono décimo distributivo (o segundo começando do mais elevado) é R$ 4.829.

O governo trata quem recebe R$ 5 mil como pobre. Não é. É um erro conceitual, que convida a população a acreditar que não deve pagar impostos. O nome disso é “populismo”, em nome do “vale tudo”. É constrangedor.

Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

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