O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na revisão da população de 2018, nos indicava que em 2060, para cada 100 pessoas no grupo de 15 a 64 anos, haveria 43 pessoas (43%) com idade de 65 anos ou mais. Agora, na projeção para o mesmo ano, esse porcentual aumentou para 46%. Com duas informações complementares chave: i) em 2020 essa proporção foi de 14%; e ii) em 2070 aumentará mais ainda, para 54%. O País tem pela frente uma “muralha demográfica”: como sustentar os idosos? Em 2020, para cada idoso com 65 anos ou mais, havia sete pessoas em idade de trabalho; em 2070, haverá menos de duas. Um país responsável, diante desses dados, tomaria providências para diminuir o ônus para os futuros participantes do mercado de trabalho.
O que o Brasil está fazendo é o oposto: elevando o preço que os futuros adultos vão pagar, com uma regra do salário mínimo que aumentará o tamanho da conta devido à política de aumento real dos benefícios indexados ao piso.
Outro aspecto relevante é o que está acontecendo nas faixas etárias mais novas. A revisão de 2018 mostrava uma realidade segundo a qual o número de crianças e jovens diminuiria. Especificamente para o grupo de 5 a 19 anos, entre 2020 e 2050, projetava-se uma queda, com esse grupo encolhendo de um contingente de 45 milhões de pessoas em 2020 para 37 milhões, três décadas depois. A realidade, porém, parece que será pior, pois para um ponto de partida praticamente igual em 2020 (os mesmos 45 milhões nessa faixa), o grupo cairia a apenas 31 milhões em 2050. Tenho brincado dizendo que crianças serão um artigo escasso no futuro. Os pediatras não terão vida fácil neste mundo.
Note o leitor o que isso significa: ao invés do número de alunos em idade escolar diminuir em termos absolutos 18%, a queda em 30 anos será de impressionantes 31%. Dito de outra forma: mesmo se os recursos para a educação nessa faixa etária se mantivessem constantes ao longo do tempo em termos reais, o valor per capita poderia aumentar 1,3% ao ano sem pressão adicional sobre o gasto público. Desconhecer este fato no traçado de políticas é simplesmente uma manifestação de ignorância.
O Brasil tem sido um país extraordinariamente perdulário nas suas políticas. Vale, a propósito, lembrar da frase que Al Gore cita no seu filme Uma verdade inconveniente, sobre o desafio ambiental: “Um dia nossos filhos olharão para nós e dirão: o que vocês estavam fazendo quando isso tudo acontecia?”. Vale o mesmo para a demografia.
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